The Dandy Warhols, “Bohemian
Like You”, in https://www.youtube.com/watch?v=CU3mc0yvRNk
Garboso, mas indiferente ao movimento à sua volta. E eram
tantos os turistas em Les Invalides
que queriam ir à esplanada natural sobre a Torre Eiffel que, apesar da vontade
irrefreável do ícone da cidade, não ficavam (eles sim) indiferentes à
personagem fidalga. O dandy de Paris fazia
uma pausa a meio da tarde sentado na escadaria diante do museu, o sol já outonal
(mas com ares de fim de verão) invadindo-lhe o rosto que já alojava as rugas em
denúncia da idade. Dir-se-ia que o homem tinha acabado de entrar na sexagenária
idade.
Tirando as rugas, só se discernia a ousadia de um dandy. A elegância da indumentária, a
roupa impecavelmente passada a ferro, sem vincos fora do sítio ou rugas (que estavam
reservadas para o rosto). O dandy
ostentava um colete debaixo do fato que era chamariz para os turistas que iam com
a atenção burilada para a torre Eiffel: o colete em padrão galês, com a mistura
de cores garridas a contrastar com o cinzento escuro do fato. Uma gravata em
tons dourados combinava com as peúgas vermelhas, num detalhe não despiciendo que
emprestava lustro à combinação do clássico com o ousado. Ainda por cima, o dandy arregaçou as calças quase até aos
joelhos, deixando à mostra as luxuriantes peúgas. A preceito, os óculos com farta
armação de massa mostravam-se no vermelho que era fio de prumo do contraste de
estilos. Um dandy é isto: a fusão de
elementos que vêm de modas diferentes; o desassombro intelectual penhor da aliança
de movimentos que, dir-se-ia, estão nos antípodas. Onde, se não num dandy (e logo em Paris), seria possível
a fusão de contrastes? Um lord inglês
apressar-se-ia a vociferar contra a heresia.
Não por acaso, o dandy
parisiense lia Husserl enquanto se comprazia com o sol quente que o outono
avisava ser derradeiro. O dandy parisiense,
jactante e excêntrico, com traços britânicos em osmose com singularidades
italianas, esticava os limites da extravagância e consumia os rudimentos da
fenomenologia.
E eu perguntei aos meandros do pensamento se a
fenomenologia não quadra com os dandy
(mas só aqueles que sabem que existe a filosofia). Ou, visto por outro ângulo
de análise, como o dandy parisiense
podia ser a essência da fenomenologia.
Sem comentários:
Enviar um comentário