Wand, “Fire on the Mountain”,
in https://www.youtube.com/watch?v=gyODysymgdI
1. Um rebanho guardado pelo clérigo da aldeia. Sempre podia
arrotar à vontade. Sempre podia entreter-se (e, quem sabe, deliciar-se) com a
flatulência.
2. Um rapazola desaustinado faltou às aulas. Não foi
para celebrar uma estroinice. Viu uma velhinha a cair desamparada, a bater com
a cabeça no chão e a ficar ensanguentada na fronte. Cresceu em
responsabilidade: chamou um táxi e levou a senhora ao hospital.
3. Um taxista esperava por clientes que vinham de aviões
acabados de aterrar. Ouvia os Einstürzende Neubauten a teorizarem sobre a
primeira guerra mundial (ele era entendido em alemão e em história contemporânea;
e cultivava a música excêntrica). Levou ao hotel um músico em moda, daqueles
que fermentam paixonetas pueris nas adolescentes. Notou o ar contrariado da
estrela. A certa altura, o artista pediu para mudar a música. O taxista apeou o
rapazola à primeira oportunidade.
4. Um guru das almas, uma daquelas personagens que
exercita a generosidade nos outros ao ponto de lhe ensinar o caminho lustroso (como
se apascentasse um rebanho, mas só onde constam os apaniguados), caiu na tentação.
Foi apanhado num bordel. Quem o defendeu da ira dos seguidores (“não se faz”, protestavam, como se
tivessem comprado gato por lebre) foram alguns dos que malsinavam as suas patranhas.
5. O prestigiado académico oferecia opiniões voláteis. Parecia
aqueles catedráticos do direito que assinam pareceres consoante quem lhes paga
(mau grado a incoerência em que são apanhados). Montado no púlpito do prestígio,
não admitia contraditório nem que discordassem dele. Os pergaminhos eram tudo.
As divergências, produto do iletrismo.
6. O poeta irradiava humildade. Não recusava uma
conversa com um admirador. Não recusava discutir a hermenêutica dos poemas,
desde que não fosse com os afamados críticos. Não recusava uma rosa. Não rejeitava
ler os esboços de poemas de aspirantes a poetas. Às vezes, reduzia-se a
aspirante a poeta.
7. O pároco entregava-se aos prazeres carnais, às
escondidas (como soe ser). As senhoras, diligentes, eram convencidas que não se
tratava de adultério (era um “chamamento
de deus”, parafraseando o pároco nos momentos posteriores ao ato).
8. O cão vadio farejava a comida entre os restos do
lixo. Destapou uma bomba abandonada. Mesmo a tempo de a brigada de minas e
armadilhas evitar um portentoso atentado. O cão foi à vida. Continuou a ser
vadio e faminto. O presidente da câmara, ao saber do feito (narrado por um
mirone que passava no local) deu ordens para recolher o canídeo. Era tempo de
campanha eleitoral. O edil tinha de aparecer nas televisões a pespegar no cão a
comenda de mérito.
9. As torradas estavam mal torradas. E mal barradas de
manteiga. O homem, irado porque teve de acordar naquela manhã, perguntou ao
empregado do café, em maus modos, se a cozinheira tinha passado mal a noite.
10. A cozinheira padecia de dores de consciência. Ainda não
estava convencida que o pecado com o pároco não era adultério e, logo, pecado.
Sem comentários:
Enviar um comentário