The Horrors, “Mirror’s
Image”, in https://www.youtube.com/watch?v=0EOPIi4Q3lM
Impressões digitais de que se perde o rasto. Sem utilidade,
a perícia de um detetive armado até aos dentes, rastreando os vestígios
deixados pelo chão fora. A páginas tantas, um espelho enorme interrompe os vestígios.
Parece que o alvo da perseguição se dissolveu numa nuvem, deixou de existir
naquele exato lugar.
Um mistério. Mas as pessoas perseverantes não transigem à
primeira contrariedade. Insiste. O alvo da perseguição não se dissolveu, que os
mistérios esotéricos esbarram nos pergaminhos racionais que não deixam
acreditar em mistérios insondáveis. Não há insondáveis mistérios; só há mistérios
e uma chave para os resolver. Só falta esquadrinhar o chão à procura da chave. Talvez
– e esta é apenas uma hipótese de trabalho baseada no esteio do racionalismo –
a pessoa que se procura ter-se-á eclipsado. O espelho enorme pode ser apenas um
ardil. Os vestígios terminam mal se abeiram da bordadura do espelho, dando a
entender que: i) uma entidade misteriosa, talvez alienígena, raptou a pessoa;
ii) em insistindo que a hipótese anterior entra no domínio do esotérico, sobra
a possibilidade da prestidigitação. A pessoa cujo paradeiro se procura terá poderes
sobre-humanos e escondeu-se atrás do espelho, passando através dele.
Num mundo absurdo, afinal tudo acaba por ser plausível. Nem
que venha com o selo da profunda contradição de termos – julga o narrador, em jeito
de advertência à personagem principal do enredo: se os afamados pergaminhos
racionais convocam o inteligível, como pode dar caução a uma hipótese (a
primeira ou a segunda) que incensa impenetráveis mistérios? Para acabar com a
história, e sem cuidar de lhe arranjar um epílogo consistente, dir-se-á que à
personagem investida na episódica função de detetive faz falta desencaminhar-se
por onde a incoerência arremata caminho. Alguém lhe sussurre aos ouvidos, mas
com vozearia audível, que já pagou fatura elevada como preço da coerência que
julga à prova de corrupção.
Daí em diante, achando-se do lado de lá do espelho,
talvez seja fácil encontrar a pessoa cujo paradeiro lhe foi encomendado. Talvez
se redescubra na pessoa em ausente paradeiro. E aprenda a gostar do que vê, ao
pôr-se do lado contrário do espelho. Sem os embaraços da racional coerência.
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