In http://imagens7.publico.pt/imagens.aspx/1007327?tp=UH&db=IMAGENS&w=749
Uma fotografia no
jornal: uma rua de Bruxelas sem gente, quando se supõe que devia estar
apinhada. Debaixo da fotografia, uma legenda em forma de interrogação: e se no
futuro for assim? Tomo a interrogação como mote. E se no futuro, por causa da
guerra surda e covarde dos que semeiam terror, formos cativos do medo e o medo
for o motivo para não sairmos de casa? A resposta que parece mais óbvia é que,
a ser assim, os paladinos do terror vão triunfar. Porque serão capazes de
destruir comportamentos habituais.
A interrogação leva a
recordar uma frase contundente, dita a uma só voz pelos líderes dos países que
encabeçam o combate aos terroristas: eles exortam à coragem, pedem para que não
capitulemos perante o medo e não mudemos hábitos. Essa será a prova que não
ficamos sitiados pela covardia dos que matam por matar, por nos chamarem
infiéis, ou por outro motivo qualquer.
São palavras belas, palavras
que transpiram uma coragem que os terroristas só têm quando se abraçam a um
colete de explosivos ou quando pegam em metralhadoras e disparam ao acaso sobre
gente desarmada. O que falta, é convencerem-nos que a segurança existe e que os
serviços secretos, por fim, têm serventia: vigiar de perto os passos dos que
estão inventariados como suspeitos de semear o terror, para travarem a sua função.
Até lá, as palavras belas dos políticos enfeitam discursos que se esgotam no
efeito retórico. Não é confortável saber que saímos à rua e podemos não voltar
a ver os entes queridos, nem voltar a casa. Não é confortável passar o tempo em
permanente desconfiança, com o temor de uma rajada de metralhadora a silvar ou
de uma explosão a troar debaixo dos pés.
Não estou a insinuar
que devemos ser timoratos. Digo, apenas, que o pragmatismo e o instinto de
sobrevivência pesam mais do que atos de heroísmo em nome da “civilização” que
os bárbaros estão a conseguir destruir, aos poucos. Não temos a mesma demência
genética dos kamikazes que matam em
nome de uma religião e que aceitam a imolação, se preciso for. Já foi tempo em
que éramos carne para canhão de exércitos e de causas que nem tínhamos o direito
de equacionar se eram justas.
As ruas de Bruxelas
estavam vazias. As pessoas são inteligentes, ou pelo menos racionais, e dão
valor à vida. O que as distingue dos bárbaros que só sabem mostrar desprezo pela
vida humana. Se as ruas vazias das cidades são um oráculo do futuro (na
hipótese de não ser possível derrotar os ninhos deste terrorismo fundamentalista),
assim seja. Antes isso do que começar a cercear liberdades a eito com o
pretexto da segurança. Essa é que seria a grande capitulação de valores a que
os fanáticos do terror nos conseguiriam conduzir. E, aí sim, eles teriam
começado a triunfar.
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