Madness, “House of Fun”, in
https://www.youtube.com/watch?v=GJ2X9SANsME
(Com o pensamento poluído pela presença do Arroja)
Já andava calado há algum tempo. Houve tempos em que
emprestava a presença ao comentário na comunicação social. Distinguia-se pela
empáfia, pelo ar blasé, por um dom de
dizer as coisas mais politicamente incorretas (o que, manda a minha verdade
dizer, não é coisa má em si) com uma petulância que eriçava a supina paciência
dos mais pacientes. Entretanto, desapareceu do mapa público. Talvez quem lhe
deu microfone tenha percebido que até o circo acaba quando as figuras abusam do
estatuto circense.
Agora regressou das catacumbas. E quando digo
catacumbas, não estou (e aqui custa admiti-lo) a apostrofar as ideias do
Arroja, que até andamos mais ou menos pelos mesmos apeadeiros. O mal não é das
ideias; é de haver um Arroja que se alinhave por elas. As catacumbas são o tabernáculo
de onde ninguém devia ter extraído o Arroja. Primeiro apareceu em pose filantrópica,
num jantar de beneficência que juntou a clique social portuense sedenta de “reconhecimento
social” para angariar fundos para um hospital pediátrico de que o Arroja é
patrono. Depois veio ao éter opinar sobre a telenovela política do momento. Não
lhe ocorreu melhor, a propósito da adversidade política, se não ultrajar as
mulheres do Bloco de Esquerda. Que são “esganiçadas”. Que não as queria para
nada – supõe-se, para além do que arrotou em público (que seriam más mães de
família, tirando a incrível conclusão a partir da postura política destas
mulheres, o que é coisa do mais alto calibre científico), supõe-se que as
recusaria se o Arroja fosse um conquistador de corações femininos.
O pobre do Arroja não se vê ao espelho e devia ter
perguntado aos seus prescientes botões se por acaso alguma mulher (seja ou não
da extrema-esquerda caviar) o queria para alguma coisa. Aquele ar piroso e obnóxio,
a jactância concomitante, a assertividade argumentativa (quase como quem diz “está visto que é como eu digo e só quem é
ignorante ou está de má fé é que não me dá razão”), os não kantianos
imperativos categóricos, a saloiice irremediável, e – volto ao início – aquele aspeto
pacóvio que nem a indumentária decerto dispendiosa consegue atabafar: eis o
Arroja, o antíctone do que alguma vez eu quereria ser se porventura não
gostasse de ser quem sou.
Sem comentários:
Enviar um comentário