8.3.05

Go technologics

Nota prévia sobre o título deste texto: ponderei algum tempo sobre o título. Surgiram várias hipóteses. Todas formavam uma frase extensa. Problemas típicos de uma língua tão complicada como a portuguesa. De repente soltou-se esta expressão em inglês: “go technologics”. A ideia é sublinhar o fascínio pela tecnologia, pelos novos domínios que estão em constante mutação, terreno para um mercado em vertiginosa mutação. De repente, o que é hoje grito da moda está amanhã nos limiares da sucata tecnológica. A expressão em inglês que encima o texto explica a atracção pelos avanços da tecnologia, a tentação que se descerra debaixo dos meus olhos.

São inúmeros os domínios. Os computadores, com a parafernália de acessórios que os tornam mais potentes e aptos a aplicações há anos impensáveis. O aspecto lúdico dos jogos, com gráficos próximos da realidade, viciantes até ao tutano. O gosto pela meteorologia e pelas estações meteorológicas. O grito da moda do GPS, da navegação automóvel que coloca o automobilista no limiar de outras fronteiras, como se fosse o comandante de um avião, orientado por uma voz que lhe indica as estradas e percorrer para atingir o destino traçado. Houvesse mais abundância material e adivinho-me mergulhado em aparelhos mil, entretido com as potencialidades que oferecem.

Acredito que somos de gostos passageiros. Que as preferências pessoais, que vão além das obrigações da profissão, oscilam com o tempo que passa. Hoje é isto, amanhã será um outro hobby. O meu encantamento pela tecnologia é coisa recente. A informática é uma ferramenta imprescindível para o dia-a-dia de um homem moderno. Quem consegue passar sem correio electrónico, sem consultar as páginas da Internet da sua preferência? Quando viajo pelo estrangeiro, e quando é impossível ligar o portátil à rede (companheiro fiel e necessário nas deslocações), tenho que fazer uma visita diária a um “Internet café”. Para verificar as mensagens que chegaram às contas de e-mail. Para me actualizar com as informações que todos os dias busco nos sites elencados na lista de preferências.

Há tempos, numa deslocação à Polónia, dei comigo encerrado numa estância turística durante três dias. Num local ermo, a surpresa seria encontrar um sítio onde pudesse cumprir a rotina diária. Senti que me faltava qualquer coisa. Senti que o ar que respirava era rarefeito, por ausência dos actos rotineiros que levam às visitas habituais pelo mundo da Internet, pela consulta das mensagens de correio electrónico. Detectei algo de preocupante nesta dependência. Porque de uma dependência se trata, no fim de contas. Prende a uma rotina diária que me leva à desorientação, caso não entre em contacto com o mundo ligado em rede.

A aproximação às maravilhas da tecnologia é coisa recente. Do passado vem um desprendimento do mundo tecnológico. Não sei se foi a voragem da inovação tecnológica, centrada no sector da informática, a responsável pelo encontro marcado com a tecnologia. Sei que os tempos da escola secundária e de estudante universitário foram tempos de insensibilidade tecnológica. A veia pelas ciências sociais fez-se então notar. A única excepção era o fascínio que a meteorologia exercia. Sempre gostei de compreender os fenómenos meteorológicos. De tal forma que às vezes me interrogo se a geofísica não será a minha vocação escondida (ou frustrada). Ou a veterinária, pelo enorme gosto por animais. Áreas bem distantes das ciências sociais pelas quais enveredei, nos estudos e depois na profissão.

Hoje sou consumidor ávido de revistas que são o mostruário das inovações da tecnologia. Interessa-me estar a par do que está na berra, do que se anuncia como o último grito da moda. E pergunto-me: sintoma de desumanização? O gosto pela maquinaria, pelas potencialidades da informática, expõe uma insensibilidade pelas ciências que enaltecem o ser humano (a literatura, a filosofia, a economia, a política, a sociologia, as artes plásticas e cénicas – outrora mais visitadas)?

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