A internacional sindicalista desfilou pelas ruas de Bruxelas no último fim-de-semana. Como é inato nos sindicatos, protestando. No caso, contra uma Europa sem “sensibilidade social”, erguendo a voz contra uma directiva que pretendia liberalizar o mercado europeu da prestação de serviços.
Da internacional sindicalista soou o alarme social: o receio que haja concorrência salarial negativa, porque o esbatimento das fronteiras permitiria que os prestadores de serviços dos países de leste se deslocassem à Europa ocidental na posse de uma vantagem comparativa – uma remuneração inferior à que recebem os prestadores de serviços “do lado de cá”. Lamentavelmente, a internacional sindicalista não percebe (ou não lhe convém perceber) que está a vedar a igualdade de oportunidades aos trabalhadores de leste, que querem vir à Europa ocidental em busca de bem-estar. A máscara do oportunismo e da hipocrisia cai com estrépito: afinal os sindicatos não zelam pelos interesses dos mais desfavorecidos. Eis como os que estão de barriga cheia vedam oportunidades aos que ainda vivem à míngua.
Uma curiosidade saltou à vista ao passar os olhos pelo folclore que desfilava em Bruxelas: ver a faixa etária avançada dos manifestantes. São os novos velhos do Restelo, crentes numa Europa que perdeu o seu protagonismo pelos excessos da generosidade do Estado do bem-estar. São a imagem da verdadeira “velha Europa”. Uma Europa que perdeu a sua glória algures no passado apenas cultivado pelos saudosistas do papel grandioso que a Europa então teve. Não foram apenas os anéis da geopolítica que se foram. Também os anéis da competitividade económica. E, no entanto, perante os fulgurantes ventos da modernidade (sob a capa da “abominável” globalização), os sindicatos insistem em viver agarrados às saudades do passado. Como se todo o mundo estivesse errado e eles fossem o oásis da verdade, a representação do modelo correcto que todos os outros deviam replicar.
Não é por acaso que, nestas manifestações, os sindicalistas que por lá pululam alegremente andam próximo da casa dos sessenta. São o testemunho do mais puro imobilismo social que retarda a Europa. Com um efeito contagioso que acentua a gangrena: conseguem influenciar muitas pessoas que exibem a repulsa por qualquer mudança que retire as benesses em que o generoso “Estado social” as educou. Pior ainda, é daquelas coisas populistas que dá votos. Daí o oportunismo político de socialistas e sociais-democratas por essa Europa fora, a quem se juntam os arcaicos franceses de direita, exalando um proteccionismo bafiento.
Do alto do folclore anti-estético da internacional sindicalista, um odor pestilento ao antiquado que é a antítese do tempo em que vivemos. Com mais adversidades pelo caminho: uma voz de protesto contra a exposição dos privilegiados europeus “deste lado” à concorrência com os europeus “do outro lado”. Negando uma concorrência que podia ser salutar – levá-los a padrões de maior competência, sem estarem agarrados à posição de monopólio garantida pela opacidade das fronteiras que os protegem da concorrência. Sem esquecer que os destinatários dos serviços não podem tirar partido da existência de um mercado aberto. É o desrespeito pelos interesses de uma larga maioria – os consumidores desses serviços – que continuam a pagar preços elevados por serviços de menor qualidade. Em nome dos privilégios intocáveis de uma escassa minoria que se acoberta no vozeirão insuportável dos sindicatos retrógrados.
Os sindicatos são uma das excrescências da democracia moderna: como entender que vingue a sua voz em defesa dos interesses de uma escassa minoria, espezinhando os interesses dos consumidores que retratam a imensa, mas silenciosa, maioria? Desde quando a democracia zela pelos interesses das minorias, em detrimento da maioria que aponta em sentido contrário? Na Europa, a internacional sindicalista não é apenas uma manifestação anti-democrática. É um dos factores que a mergulha no atraso que começa a ser irremediável.
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