Pelo entardecer, quando o céu ganha o seu púrpura e fica tingido com as cores de um fogo que o incendeia, o recolhimento. A sós, como se por instantes o mundo se suspendesse da sua voracidade. O céu em fogo, como se estivesse gritar os derradeiros instantes antes de ser tomado pela noite sufocante.
O purpúreo tecto reflecte o espelho onde se fita. Há ali um balsâmico lugar onde o fim do dia traz o repouso de todas as peripécias acumuladas. Um jogo de espelhos onde se desdobram todos os seus múltiplos. Aquele que ri da pesporrência alheia. Aquele que chora as dores que o condoem, quando no peito esbarram com toda a força as angústias que não consegue reprimir. Ou os espasmos de optimismo, quando erra pelas ruas, sem destino, só para se comprazer com os sorrisos das caras anónimas que se misturam com as faces contristadas. Comprazer pela distinção: invejando os sorrisos que desfilam diante de si, as pétalas perfumadas de felicidade que essas faces exalam.
Os matizes que debruam o céu transformam-se a cada segundo que passa. O escurecimento que se apodera do horizonte é sinal das interrogações, das muitas interrogações que ficam tantas vezes sem resposta. À medida que a cor púrpura se depõe perante o breu nocturno, a única certeza: a das muitas perguntas que não têm solução. As muitas perguntas que são alimento para outras perguntas que se alistam numa sucessão infindável. Sabe que o jogo de espelhos que navega no céu oferece a perturbante imagem das inúmeras respostas possíveis que se desfraldam quando uma interrogação é hasteada. Há nessa encruzilhada um nutriente. De cada vez que a estrada se desdobra em quatro caminhos. A única certeza que dá por adquirida é o labirinto obscuro por onde erra.
No jogo de espelhos com que se debate, deduz-se uma imagem apenas. Conclui que só é uma imagem. Demanda pela sua essência. Ao chegarem os tentáculos enregelados da noite, há um frio árctico que lhe percorre as entranhas. Debate-se na interrogação pela essência que o há-de compor. A ausência de respostas insinua o vazio. Ou apenas uma imagem diferente do que tinha julgado ser. Perde-se nos corredores sem lugar do labirinto, cambaleando, agora que perdera a centelha do céu incendiado. Tudo o que lhe restava era a escuridão que se notava de cada vez que esbarrava nas frias paredes onde batia. Se ao menos não tivesse perdido a candeia do céu púrpura, agora transformado em escuro espelho de onde nada se via para além das estrelas.
E, todavia, o táctil caminho que percorria, compassado, era o lado ignorado de si. Convencera-se que o mergulho nas profundezas sombrias, onde a luz era inexistência, anunciava a peregrinação obrigatória. Pressentia os sorrisos espontâneos, as faces que irradiavam alegria, contentes com aquilo que em si transportavam, sem darem guarida às interiorizações perdidas nos meandros (inconsequentes) da complexidade. Tratava-se de um reencontro com a singeleza que pontua as coisas e as pessoas com a luz límpida dos dias mais claros. E nisto havia a clareza dos paradoxos: de como há que mergulhar até onde as raízes se escondem, bem fundas, para trazer à superfície a seiva purificada que é nutriente maior.
Podem as vagas ser alterosas. As ondas vomitadas pelo vento furioso batem com força, magoando o corpo que se entrega à coreografia aleatória da tempestade. Às vezes sentir que não há orientação definida, entregue às ondas que batem umas nas outras. Como se fosse um caos, um caos caridoso que expurga os corpos estranhos que o haviam transformado num corpo estranho só. Alguém que era ele mas já nem reconhecia sê-lo. Sabia que a noite tempestuosa era um leito alteroso, as indomáveis vagas que reconheciam os pesadelos mais sorumbáticos. E pressentia que a noite, a longa noite, haveria de ter um fim ao amainarem os ventos velozes. Então o mar seria a transparência do azul límpido do céu que o dia acabado de nascer tinha legado.
E mesmo aí, dobradas as angústias da hibernação nocturna, haveria de descobrir que é uma imagem só. Só uma imagem. A hesitação maior: se tudo o que é sensorial não é uma ilusão apenas, um fictício cenário onde desfilam as personagens que passam pelo filme em que vive aprisionado.
O purpúreo tecto reflecte o espelho onde se fita. Há ali um balsâmico lugar onde o fim do dia traz o repouso de todas as peripécias acumuladas. Um jogo de espelhos onde se desdobram todos os seus múltiplos. Aquele que ri da pesporrência alheia. Aquele que chora as dores que o condoem, quando no peito esbarram com toda a força as angústias que não consegue reprimir. Ou os espasmos de optimismo, quando erra pelas ruas, sem destino, só para se comprazer com os sorrisos das caras anónimas que se misturam com as faces contristadas. Comprazer pela distinção: invejando os sorrisos que desfilam diante de si, as pétalas perfumadas de felicidade que essas faces exalam.
Os matizes que debruam o céu transformam-se a cada segundo que passa. O escurecimento que se apodera do horizonte é sinal das interrogações, das muitas interrogações que ficam tantas vezes sem resposta. À medida que a cor púrpura se depõe perante o breu nocturno, a única certeza: a das muitas perguntas que não têm solução. As muitas perguntas que são alimento para outras perguntas que se alistam numa sucessão infindável. Sabe que o jogo de espelhos que navega no céu oferece a perturbante imagem das inúmeras respostas possíveis que se desfraldam quando uma interrogação é hasteada. Há nessa encruzilhada um nutriente. De cada vez que a estrada se desdobra em quatro caminhos. A única certeza que dá por adquirida é o labirinto obscuro por onde erra.
No jogo de espelhos com que se debate, deduz-se uma imagem apenas. Conclui que só é uma imagem. Demanda pela sua essência. Ao chegarem os tentáculos enregelados da noite, há um frio árctico que lhe percorre as entranhas. Debate-se na interrogação pela essência que o há-de compor. A ausência de respostas insinua o vazio. Ou apenas uma imagem diferente do que tinha julgado ser. Perde-se nos corredores sem lugar do labirinto, cambaleando, agora que perdera a centelha do céu incendiado. Tudo o que lhe restava era a escuridão que se notava de cada vez que esbarrava nas frias paredes onde batia. Se ao menos não tivesse perdido a candeia do céu púrpura, agora transformado em escuro espelho de onde nada se via para além das estrelas.
E, todavia, o táctil caminho que percorria, compassado, era o lado ignorado de si. Convencera-se que o mergulho nas profundezas sombrias, onde a luz era inexistência, anunciava a peregrinação obrigatória. Pressentia os sorrisos espontâneos, as faces que irradiavam alegria, contentes com aquilo que em si transportavam, sem darem guarida às interiorizações perdidas nos meandros (inconsequentes) da complexidade. Tratava-se de um reencontro com a singeleza que pontua as coisas e as pessoas com a luz límpida dos dias mais claros. E nisto havia a clareza dos paradoxos: de como há que mergulhar até onde as raízes se escondem, bem fundas, para trazer à superfície a seiva purificada que é nutriente maior.
Podem as vagas ser alterosas. As ondas vomitadas pelo vento furioso batem com força, magoando o corpo que se entrega à coreografia aleatória da tempestade. Às vezes sentir que não há orientação definida, entregue às ondas que batem umas nas outras. Como se fosse um caos, um caos caridoso que expurga os corpos estranhos que o haviam transformado num corpo estranho só. Alguém que era ele mas já nem reconhecia sê-lo. Sabia que a noite tempestuosa era um leito alteroso, as indomáveis vagas que reconheciam os pesadelos mais sorumbáticos. E pressentia que a noite, a longa noite, haveria de ter um fim ao amainarem os ventos velozes. Então o mar seria a transparência do azul límpido do céu que o dia acabado de nascer tinha legado.
E mesmo aí, dobradas as angústias da hibernação nocturna, haveria de descobrir que é uma imagem só. Só uma imagem. A hesitação maior: se tudo o que é sensorial não é uma ilusão apenas, um fictício cenário onde desfilam as personagens que passam pelo filme em que vive aprisionado.
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