In http://www.jornaldoalgarve.pt/wp-content/uploads/2011/07/ze-povinho-moodys-300x190.jpg
De vir às lágrimas: toda a gente (ou quase) de braço dado, numa rara manifestação de irmandade de lusitanismo por causa de uma voraz agência de rating que, contra toda a lógica (argumenta-se), afundou ainda mais a reputação da sagrada república junto dos credores internacionais. Foi um raro clamor popular em uníssona forma. Os partidos saltaram todos para o mesmo barco, protestando contra a ganância da Moody’s – a nefanda agência que tanto beliscou a portugalidade. E até o presidente da república, o mesmo que há uns meses proclamava, com aquele ar professoral e ao mesmo tempo paternalista com que nos invade a vista, que não devemos assustar os mercados, se atirou com uma insólita fúria às agências de rating.
Depois, as redes sociais e a muito inventiva veia lusitana trataram do resto. Vociferaram contra o lixo em que a Moody’s nos arrumou e vingaram-se, despejando carradas de lixo simbólico sobre quem nos ajuizou de maneira tão depreciativa. Pelo meio, as mentes muito criativas encontraram o engenho para esboçar variadas teorias conspirativas: ou éramos o restolho da Grécia, ou eram os “americanos” que queriam atacar o euro, ou eram investidores sem rosto, gananciosos como soem ser os malditos capitalistas, que tencionavam desvalorizar as empresas públicas que vão calhar na próxima rodada de privatizações, ou eram os interesses escondidos nas tenebrosas agências de rating que mandam a reputação devedora da república para o caixote do lixo só para maximizarem lucros com o dinheiro que nos emprestam. De tudo um pouco no abundante cardápio de conspirações.
Temos uma queda natural para enxotar a culpa própria para ombros alheios. Quando as coisas desandam e o desespero bate à porta em forma de vulto que adeja a foice sobre a cabeça, vamos ao fundo do baú em demanda das responsabilidades que jazem algures. Das responsabilidades que nunca nidificam nos actos próprios que dão origem ao cataclismo iminente. Faz lembrar aqueles alunos que empurram para cima dos professores a causa das suas reprovações. É o professor que embirrou com eles, ou o professor que corrigiu mal a prova, ou outra explicação qualquer que desnovela a evasão da responsabilidade de quem foi a exame.
Nisto de ser avaliado, as más avaliações encontram a sua causa no avaliado. Não no avaliador.
4 comentários:
Paulo,
A posição do avaliador não é 'um ponto fixo no Universo'... é uma 'relação' entre avaliado e avaliador.
O debate sério sobre o tema passa, também, por discutir os critérios da avaliação e a ética da sua definição e aplicação.
O folclore: bom,pelo menos saímos do futebol! Pensamos, logo, existimos!
Cláudia
De acordo, Cláudia, o avaliador não é o centro do universo. Mas quem se submete à avaliação sabe, à partida, quais são as regras. O que me parece, com esta histeria generalizada contra as agências de rating, é que o desprazer dos resultados levou muita gente (que entretanto se juntou aos que já estavam neste barco) a questionar as regras do jogo.
PVM
Desculpa discordar, Paulo: quem se submete à avaliação sabe quais as regras??? seria bom, mas Pangloss não tinha razão nenhuma, infelizmente. As regras são fluidas, adaptam-se às necessidades... e mesmo quando se prega a insondável profundidade e solidez da "Regra" (ou do Regulamento de Avaliação, ou de outra qq coisa semelhante... da Lei, por exemplo) a certeza é delida pela excepção retumbante (ou surda), pelo canto da parede que se movimenta a contento, pela assembleia que legisla ad hominem. Que há culpas, e graves, na nossa triste administração da coisa pública? mas sem dúvida! que a Moody's está ao serviço de tudo menos de rating sério? obviamente!
Sérgio:
Bem-vinda discordância!
O que quis enfatizar foi o seguinte: entre acreditar entre políticos desacreditados e agências de rating, prefiro as segundas.
Enviar um comentário