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A mefistofélica nostalgia não tem serventia. Acossados pelas sinuosas estradas que foram o pretérito, de lá regressamos, no vapor das memórias, com o travo amargo que mortifica. Na existência que levamos um retrovisor é o patíbulo, o fautor de mais acidentes de percurso se a recaída em equívocos de antanho for retomada – apesar desses equívocos estalarem na boca pelo vapor das memórias. Dizem os mais cautelosos que é tudo no seu contrário: as lições retrospectivas abonam a sensatez que se atira ao porvir. Contraponha-se: e quando o corpo contumaz é mau aluno e reprova nas lições que o seu transacto podiam ensinar? Na confluência de opostos, com argumentos chocando entre si, regresso à partida: a nostalgia é mefistofélica.
Esse transacto é um veneno que degreda. Amputa o sentido do tempo vivente, do único tempo que nos é dado a reter (ainda que tão efémero como é o presente). Da espessura do transacto sobem à tona recordações que renovam a matéria onírica. Ou as más lembranças, contrariedades marcadas a negro quando se traz o pretérito até ao tempo vivente.
Em nenhum caso temos algo a ganhar (nem sequer, em contraposição com os cautelosos do tempo ido, com as conjecturadas lições que ele nos adestra). As lembranças que reavivam um sorriso no rosto são perjúrio. O tempo ido está deposto na sua impassibilidade. As recordações são um logro onde nidificam os sonhos impossíveis, a anestesia do tempo vivente. Os outros protagonistas não pertencem à peça onde se jogam os gestos e as palavras daquele tempo. As lembranças que destoam da empírea são patológicas. É como se o corpo derrapasse para a atrofia da existência e deixasse pesares em legado ao tempo que os queria já ausentes.
O passado é uma inutilidade. A negação do tempo vivente – do tempo em que nos reinventamos. Do enclave onde se encerra o transacto espera-se distância, algum esquecimento. Senão o corpo entrega-se, madraço, aos improfícuos labirintos.
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