22.7.11

Hermenêutica das festas


In http://nicoleodell.com/wp-content/uploads/2011/04/party-hat2.jpg
Palavras de significados insondáveis. Vai-se a uma festa – e não interessa se são festas recônditas, ou festas apalavradas pelo neon da fama – e alguém ou um quê alinhava-se no recobro da homenagem. Os participantes na ocasião festejam. Celebram: uma efeméride, o aniversário de alguém, ou apenas o pretexto para socializarem no regaço da vivacidade festiva. Mas quando alguém mete os pés ao caminho e alinha numa festa, esta expressão (“ir a uma festa”) deixa de ter significado inteligível de tão gasta por remoer no pensamento. A própria palavra “festa” verte-se num nada quando ecoa, vezes e vezes, nos recantos do pensamento teimoso.
Talvez o mal seja de quem confunde os significados múltiplos contidos numa palavra. Quando a palavra “festa” se emprenha nos ouvidos ou no calendário, ela evoca um afecto que exige transcendência física. Festas é o que faço às pessoas que me são queridas. As festas convocam um acto físico – um beijo, um afago com a mão, um abraço apertado, desenredar palavras sentidas, derramar lágrimas quando os momentos se transformam em intensidade emotiva.
As festas que decantam os seres sociais (o que nos ensinam a ser desde os bancos da escola) têm outro calibre. Nas festanças obrigatórias à agenda social, os figurões que se empenham em aparecer festejam-se a si mesmos. Como estão ali para serem vistos, e fazem questão de dirigir a si os olhares anónimos (ou dos arrivistas que pretendem um quinhão do estrelato), vão a festas para se auto-contemplarem. São festas a si mesmos, exercícios de narcisismo social que adulteram o sentido da palavra “festa”. Até os anónimos que se chegam aos famosos para ver se ficam no retrato nem que seja como pano de fundo (e talvez se possa chamar a isto parasitismo) ensaiam a festa a si mesmos, ao arrivismo em que maceram. Estas festas são o coalho do frívolo umbiguismo.
Não é só a língua nativa que nidifica nas suas limitações. Na língua inglesa usa-se “party” para retratar aquilo que aqui se chama “festa”. À letra, “party” traduz-se em “partido”. Uma celebração destas também avia as malas de uma coisa partida. E como pode algo que é partido ser uma coisa boa?

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