4.7.11

Um cão pertence a uma varanda?


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Ali no prédio em frente está um cão que passa o tempo todo fechado na varanda. O pobre animal, tristonho como o são as criaturas encerradas num cárcere, esgravata a persiana fechada enquanto vai ganindo. No seu cubículo onde a comida vive ao lado da urina e das fezes e do arremedo de cama onde descansa, o cão protesta a desdita. Os donos, ainda mergulhados na alvorada dormente, fazem de conta.
Sim, a desdita. O cão pertence ao que se convencionou chamar “rafeiro”. Adivinho: foi resgatado a um hospital veterinário onde são depositadas as crias de cadelas que vadiam pelas ruas. Ao canídeo, dir-se-ia, saiu a sorte grande. A sorte que o retirou da errância pelas ruas da cidade, esquivando-se dos maus tratos de gente bestializada, fugindo da comida envenenada que uns assassinos de carácter (do seu próprio) semeiam para fazerem o genocídio canino, retirando-se da elevada probabilidade de uma morte horrível debaixo dos rodados de um camião, furtando-se à perseguição dos algozes camarários que dão caça aos “cães vadios” e os depositam no canil à espera da injecção letal. Da sorte saiu-lhe apenas a terminação. Não sei se não seria preferível ao cão usufruir da sua liberdade mesmo à míngua de víveres e com a certeza de dormir ao relento. Assim como assim, do relento o pobre animal não se safa.
E não estamos no campo, onde os cães são vítimas inocentes da ignorância dos donos que os acorrentam em casotas lúgubres no exterior da casa, alimentando-os com uma ração pútrida feita de restos da comida humana, numa mistela que os animais comem porque a fome obriga. Esteja um sol tórrido ou um frio de rachar, os cães não têm a soltura que queriam por causa de uma trela que os acorrenta ao lúgubre lugar, da trela que limita os movimentos a uma periferia curta.
Não estamos no campo, nem aquele segundo andar tem um pedaço de terreno que leve os donos a plantar um dócil canídeo convencidos de que exibem um feroz cão de guarda. Mas é tudo como se assim fosse. Como se as pessoas que habitam o segundo andar estivessem convencidas de que vivem no campo e que o cão que tiveram a dignidade de resgatar à errância citadina afinal passe uma existência pouco mais digna enquanto os dias se demoram na clausura da varanda para onde foi despejado.
Não vou sugerir proibições ou imposições, que os tempos que correm estão cheios delas. Gostava de perceber o que vai na cabeça de gente como esta que tira um cão da miséria e lhe destina uma outra forma, um pouco mais digna, de miséria. Sei que os afectos dos outros têm a sua pessoal bitola, o que talvez impeça de me interrogar sobre a existência de afecto daquela gente pelo cão atirado para o degredo da varanda. Enquanto continuo a ouvir o cão a esgravatar furiosamente nas persianas fechadas, debitando uns extenuados uivos, e os donos preferem o sono e nem dão conta do desespero do cão, sinto uma terrível pulsão proibicionista. De como seria proibido manter animais de companhia nestas condições, pois é a negação da sua utilidade (dito assim, com esta frieza). Nem que fosse obrigatório fazer um cadastro de quem pratica estas atrocidades. Para serem impedidos de voltar a ter um animal por companhia.
Mas não vou sugerir proibições ou imposições, que os tempos que correm estão cheios delas. N~﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽na cidade. o o pobre animal n\ao se sim  horrs de gente bestializada, fugindo da comida envenenada que uns assassinos

1 comentário:

Unknown disse...

Bom dia, Como me identifico com o que li, na varanda mesmo na frente da minha casa, passa-se exatamente o mesmo. E sem meios de resolver.....