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Um dress code, outra vez. A veneranda Universidade Católica verteu uma ordenança: alunos, funcionários e professores devem usar vestuário apropriado a “uma instituição da igreja” (entre aspas porque reproduzo a ordenança). Foram dados dois exemplos da negação de vestuário “digno e conveniente” (sic): xanatos e camisolas do Benfica.
Eis três coisas que era incapaz de fazer: usar xanatos (por repulsa estética), uma camisola do Benfica (por motivos óbvios) e frequentar a Universidade Católica (fosse em que condição fosse). A terceira era reforçada ao tomar conhecimento das duas primeiras. Todavia, se andasse na universidade, era capaz de abrir uma excepção provocatória e meter, uma vez que fosse, uns xanatos nos pés e envergar (ó heresia das heresias) uma camisola do propalado “maior clube do mundo”. Só para ver se me expulsavam do local.
A igreja tem a mania das castrações. Castrações para todos os gostos – comportamentais, sexuais, agora de indumentária. Há dias, um padre transmontano não deu a comunhão a uma rapariga que vinha com um decote excessivo. Terá o padre ficado – como dizê-lo? – incomodado com algo? E, por pirraça (já que os mandamentos superiores obrigam à castidade), mandou a moçoila para trás sem direito à hóstia benzida? E a universidade da igreja ter-se-á inspirado no exemplo do cura transmontano? É que as meninas aliviam-se de vestuário quando a estação do calor toma conta do calendário. Não vá a produtividade ressentir-se, porque a tentação redobra esforços quando a castração sobe ao púlpito e veste a forma de regras.
Há um certo nojo nestas regras bafientas. Envergar roupa é uma forma de expressão e os limites ao traje refreiam a liberdade de expressão – é tão simples como isto. Estes assomos de autoritarismo que invadem a intimidade das pessoas soam a retrocesso civilizacional. Quando vamos por aqui damos conta de que já entrámos em tempos perigosos.
Eu tenho uma t-shirt com esta frase estampada: “fuck Google, ask me”. Suponho que não podia entrar na Universidade Católica se a trajasse.
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