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Quem falou de mal entendido? Quem falou
de equívocos, palavras mal percebidas, palavras ditas à toa?
Os mal entendidos são uma máscara à volta
de um rosto desfeado para iludir a feiura. São tendidos pacientemente, as
sucessivas camadas puxando lustro a uma linguagem que faria inveja às mesurices
dos diplomatas. Qual é a serventia de um mal entendido? Nenhuma. Corrigenda:
úlceras, noites de insónia, cabelos grisalhos que se amontoam, rugas que
envelhecem fora do tempo, impaciência. Um sorriso que se desaprende. Os
sedimentos que abençoam um turbilhão incorrigível de palavras malditas, as palavras
mal ditas, sufocam as bênçãos atrás das maldições que se ajuramentam.
Só há mal entendidos sequazes. As
palavras desnudam-se, ficam frias à frente da boca que as diz, gravitam frias
ainda nos ouvidos de quem as escuta. Desprovidas de máscaras, mostrando tudo o
que tem de ser mostrado. As palavras assim entoadas são ditosas. Quando as
arestas são limadas com o desassombro da lhaneza, quem pode falar de mal
entendidos? Tudo renasce numa órbita cheia de luz, as nuvens maceradas no
azedume sopradas para latitudes à distância pelos ventos propícios.
Tecem-se as urdiduras nos contrafortes
dos mal entendidos. Os bem entendidos são um eflúvio. Onde antes empestava o
coalho das ideias infetadas por fígados azedados, florescem, mercê da sapiência
dos bem entendidos, frondosas flores que deixam um rasto de perfume. Os dias
amanhecem com a claridade, os rostos das pessoas entram pelos olhos com
sorrisos abundantes. As palavras são melopeias que embalam para a gratificante
recompensa dos dias – um sono embebido no sossego.
Quem pode falar de mal entendidos se as
palavras se desapossaram das ambiguidades, dos segundos sentidos, das táticas
que congeminam ardilosas ciladas, da hipocrisia, da tacanhez misturada com
sorumbática diplomacia? A nudez das palavras é o esteio dos bem entendidos.
Saibam, ou queiram, as vontades libertar os freios que as acorrentam à teima
dos mal entendidos.
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