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Encerra
as páginas amarelecidas do pesado álbum onde se resguardam as projeções dos
anos idos. Olha em frente; não de soslaio, fixa o olhar no alquebrado horizonte
que se espraia diante dos olhos. Que as alcavalas do pretérito só têm uma serventia:
deixam os olhos marejados, inutilmente marejados. A combustão dos sentidos
proclama a inocência do tempo vindouro. Como pode o que ainda vive adormecido
nos sonhos aguentar com as culpas do tempo pretérito?
Mostra-me
o tempo. O tempo que interessa, as almofadas onde se acasalam os ponteiros do
relógio que marca a cadência das eras. Por mais voltas que dês, as juras de
alteridade esbarram na saudade. Mas a saudade é um inanimado estado que simula
as reentrâncias de outrora, como se elas fossem repetíveis, como se as águas
não fossem inertes lodosos. E, no entanto, as ilusões desfazem-se como vento
enclausurado entre as mãos. A reprodução dos fulgores, representação do tempo
pretérito, embota-se nas represas dos dias reverenciados. A iteração do tempo
julgado é como as sentenças abraçadas ao jugo definitivo.
Os
solavancos do caminho são árdua tarefa. Muitos desistem ao primeiro ensaio. Enjoam-se
com o promissor, ou não tanto, porvir encerrado nas catacumbas do tempo em véspera
de ser tempo maior. A capitulação agiliza a cedência do pensamento. Em
metendo-se o corpo e o pensamento nas alavancas do desejo, os solavancos são um
formigueiro sem importância. Nas janelas, o gelo noturno funde-se. Nos campos,
as verduras estão decapadas pelo gelo tão frio. As rosáceas evocam camponeses
arrimando à grande urbe. Ensaia-se a revolução ambicionada pelos perenes descontentes.
Eles olham os relógios passados por propedêutica carburação. Não se perdoariam
se a admissão dos retardatários arrefecesse o imperativo do porvir.
E
nisto mostras-me o relógio depois de te pedir explicações sobre as variações do
tempo. Reparo no ponteiro dos segundos, no compassado estertor do ruído onde
existe a advertência do porvir. O futuro é um tempo gasto. Os pretéritos e os
porvires curvam-se perante a mesma atadura. São o tempo decantando-se em sua
inutilidade. Os vivas de entusiasmo, que se guardem para os hojes que se dissipam.
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