In http://literesinapoetica.blogspot.com/2008_04_01_archive.html
Pudessem
os dias, muitos dias, entardecer embebidos nesta claridade. Até as tempestades
medonhas, a noite deitando-se precocemente, não seriam regaço tristonho a
coalhar a luz clara. Viessem as tempestades mais tremendas, o caos sentido na
folhagem desprendida e nas ramagens arrancadas às raízes, pudessem todas as
ondas descapitalizar o mar sereno de uns dias antes, as telhas esparsas em
perigosas coreografias até se esboroarem no empedrado molhado; poderiam os
elementos em sua fúria ser o sobressalto constante, mas a luz clara que se
insinuava detrás da plúmbea, feroz cortina tudo amaciava.
Era
como se pelas lentes propositadamente colocadas o olhar trespassasse as densas
nuvens em sua agitação selvagem vindas do poente, de onde soprava o vento
trazido pelo oceano em buliçosa faina. As lentes saltavam as ameias feitas de
um pétreo aço – ou as fortificadas nuvens que ocultavam a luz clara, a luz
deposta pelo sol em plena irradiação. O peito enchia-se de ar à medida que os
olhos fechados aspiravam a maresia e rasgavam as cortinas que embaciavam a
claridade. Os olhos em levitação empurravam a camada de nuvens, resistiam ao
vórtice da tempestade. Enfim, sentiam atrás de si a turbulência em ocaso. E
saciavam-se na luz clara que a demorada borrasca escondia.
No
promontório, os olhos encantavam-se com a luz tão clara que, nem por fechados
estarem, lhes devolvia uma cortina baça. Os dedos afagavam o rosto tão frio com
as pétalas colhidas nos campos de flores à mão de semear. As pétalas, coloridas
e perfumadas, vinham tingidas com o nutriente da luz clara. Nelas se depositava
a grandiosidade da claridade imperatriz. Oxalá os dias todos, ou pelo menos
muitos, amanhecessem com uma cama de pétalas a pressagiar a claridade expoente.
Oxalá as forças interiores se congeminassem num ferro incandescente, as faúlhas
cuspindo o abraseado imperativo de um devir sempre distinto, derrotando
fantasmas mal sepultados.
Em
todas as penumbras a obscuridade era vassala da luz clara, sua matriz.
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