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Paninhos quentes em vez de facas afiadas.
Diziam-lhe: não alimentes o afogueamento de ti em esperas inúteis, os dias
adiados um atrás do outro como se uma qualquer alvorada desatasse uma solução
inesperada. Paninhos quentes, pois. Para o envelhecimento precoce não espreitar
à primeira rima quebrada.
Os conflagrações roubam anos de vida –
dizia-lhe com a voz suave que, todavia, podia esconder promessas ocultas.
Desmembrou-se toda a desconfiança diante de si. E se aquelas palavras
balsâmicas fossem uma armadilha? E se estivesse a ser hipnotizado para
capitular? A cilada podia não ser a intenção. Mas a desconfiança em redor,
amadurecida com os sucessivos agravos em que caíra, articulava por dentro. E,
todavia, pesavam aquelas palavras sussurradas ao ouvido enquanto os olhos
marejavam. Pesavam à hora do deitar, quando uma insónia tomou o lugar do sono
mercê da proposta de rendição que se insinuara.
Sobrava o orgulho. A ausente vontade de
dar o braço a torcer. Nem que a perpetuação dos sobressaltos desfiasse o tempo,
o tempo já em demasia, deitado fora. O orgulho, o maldito orgulho, inerte no
firmamento das intenções. Era um castelo pétreo, as ameias tão altas que nem
admitiam o olhar dos curiosos. As pedras cheias de musgo impediam a travessia.
De repente, um feixe de luz entaramelava-se numa reentrância entre duas pesadas
pedras montadas na muralha. A teimosia haveria de ceder numa das pontas. De
tanto esticada, a corda era uma frágil deposição de si mesma. Não era difícil
desensarilhar os nós sobrantes. O feixe de luz ecoava numa paisagem mental: e
se a rendição fosse o segredo destapado pela última ponta depois de
desembaraçada do seu nó final?
O orgulho, impenitente, continuava a
ferver protestos com uma inflamação que incandescia. Era como se fosse uma
frágil embarcação nos revolvidos braços de ondas tumultuosas que esbarravam
umas contra as outras. O palco era medonho. E as ideias, esportuladas em dois
hemisférios, demoravam a repousar num dos regaços. Mas a rendição já não era
uma impossibilidade. Só faltava que as fortificadas muralhas do orgulho cedessem.
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