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Ensinam
os gurus de uma positividade qualquer: até das catástrofes se extrai um sumo
adocicado que alimenta o porvir dos sentidos. Talvez assim seja com a contumaz
crise que ameaça tirar o sol do horizonte. Pelo caminho, como vive (quase) toda
a gente à míngua e (quase) ninguém tem dinheiro para mandar cantar um cego, os
hábitos nivelam-se pela modéstia.
Os
municípios estão entre o escol dos neófitos pobretanas. Endividados até ao
tutano, mal habituados a mostrar obra à custa de pagamentos adiados até ver, sentem
o cutelo sob a cabeça. Como o chicote da disciplina orçamental está nas mãos de
estrangeiros (a troica), andam a toque de caixa. Entre o dever de pagar salários
e outras libertinagens em usura dos dinheiros públicos só para engraxar a
estima dos munícipes pelo autarca modelo, os edis aparecem contristados a
anunciar cortes na habitual prodigalidade camarária. A pouco mais de um mês das
festividades natalícias, já há por aí câmaras municipais a avisar que o natal
vai ser sóbrio até nas iluminações alusivas. Em certos lugares nem dinheiro há
para montar uma só catenária natalícia. Noutros, o néon da quadra será muito
modesto, uns simples fogachos só para trazer o gostinho do natal até à vista.
E
como os gostos se apuram pela lente da subjetividade, digo, no que aos meus tange,
ainda bem que a crise tem esta serventia. As luzes profusas que enfeitam os
espíritos em longa temporada pré-natalícia (às vezes enxameavam as ruas com
mais de um par de meses de antecedência) são despesa supérflua. Dizem os
comerciantes que as luzes que lembram as pessoas que aí vem o natal (não se esquecessem
do calendário...) aquecem o comércio. Assim como assim, este ano, que é
tirocínio para a carência de subsídio de natal dos funcionários públicos nos
próximos dois anos, já será ano de má faturação para os comerciantes. A parcimónia
das luzes natalícias é apenas o presságio do que aí vem. Novos e também mais
frugais hábitos.
Entre
um natal poupadinho, muito modesto nas habituais banalidades que se trocam, e o
esquecimento da quadra se for trazido pelo deserto de iluminações típicas, há
males que sobram para bem.
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