22.11.11

Quem disse que as crises não têm serventia? A castração das iluminações de natal


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Ensinam os gurus de uma positividade qualquer: até das catástrofes se extrai um sumo adocicado que alimenta o porvir dos sentidos. Talvez assim seja com a contumaz crise que ameaça tirar o sol do horizonte. Pelo caminho, como vive (quase) toda a gente à míngua e (quase) ninguém tem dinheiro para mandar cantar um cego, os hábitos nivelam-se pela modéstia.
Os municípios estão entre o escol dos neófitos pobretanas. Endividados até ao tutano, mal habituados a mostrar obra à custa de pagamentos adiados até ver, sentem o cutelo sob a cabeça. Como o chicote da disciplina orçamental está nas mãos de estrangeiros (a troica), andam a toque de caixa. Entre o dever de pagar salários e outras libertinagens em usura dos dinheiros públicos só para engraxar a estima dos munícipes pelo autarca modelo, os edis aparecem contristados a anunciar cortes na habitual prodigalidade camarária. A pouco mais de um mês das festividades natalícias, já há por aí câmaras municipais a avisar que o natal vai ser sóbrio até nas iluminações alusivas. Em certos lugares nem dinheiro há para montar uma só catenária natalícia. Noutros, o néon da quadra será muito modesto, uns simples fogachos só para trazer o gostinho do natal até à vista.
E como os gostos se apuram pela lente da subjetividade, digo, no que aos meus tange, ainda bem que a crise tem esta serventia. As luzes profusas que enfeitam os espíritos em longa temporada pré-natalícia (às vezes enxameavam as ruas com mais de um par de meses de antecedência) são despesa supérflua. Dizem os comerciantes que as luzes que lembram as pessoas que aí vem o natal (não se esquecessem do calendário...) aquecem o comércio. Assim como assim, este ano, que é tirocínio para a carência de subsídio de natal dos funcionários públicos nos próximos dois anos, já será ano de má faturação para os comerciantes. A parcimónia das luzes natalícias é apenas o presságio do que aí vem. Novos e também mais frugais hábitos.
Entre um natal poupadinho, muito modesto nas habituais banalidades que se trocam, e o esquecimento da quadra se for trazido pelo deserto de iluminações típicas, há males que sobram para bem.

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