In http://pekdek.com/fotos/2010/05/beijos-de-famosos-em-filmes.jpg
Saberás
que um beijo é um poema tingido de saberes. Saberás. Que um beijo, pela calada
da noite, afugenta o frio campestre que enxameia as estrelas. E que esse beijo
revolve o vácuo por dentro, caldeia-se em epiderme arrepiada, destruindo os
sobressaltos em ebulição. É ouro puro que se depõe em todo o corpo.
Dizia-lhe,
incessantemente, que os beijos arremetem contra a macilenta cor dos dias que
não se interrompem na sua rotina. Os beijos, dizia-lhe, acabam por ser iguais
uns aos outros. E, todavia, na sua semelhança vertem-se sempre diferentes.
Pelos beijos decantam-se as palavras que ficam pendentes no deleite do gesto.
Beijos tradutores das palavras que as vozes não sabem dizer. Aquelas palavras
que se pressentem. As que rasgam a monotonia dos dias. Pressentem-se, essas
palavras, embebidas no silêncio. Não são para serem pronunciadas – pensava,
temerário, adivinhando-se desastrado na formulação em viva voz das palavras que
desfilavam diante dos olhos fechados. Os poemas imaginados abortavam à boca de
cena. Pelo imperativo de um beijo.
Os
beijos alimentam o regaço aquecido onde as mãos acariciam os longos cabelos
emaranhando-se entre os dedos. Esses beijos são a combustão dos instintos. Os
lábios carnudos que sussurram promessas de volúpias interrompem os devaneios e repousam
nos lábios outros. Detêm-se, langorosos, numa maresia que funde os olhos, uma
alquimia que aprecia uma perenidade em instantes efémeros. São os beijos que
irrompem na escuridão e transportam a candeia que ensina o que tem préstimo. Os
calafrios rasgam o silêncio à medida que um beijo atrás do outro desordena os
sentidos.
Em
resposta, dizia-lhe: “não passo sem os
teus beijos”; notava os olhos marejados. Olhassem de fora e diriam, com
desdém, que era filme em modo comédia romântica. Mas os beijos só são sentidos
por quem os depõe. Os calafrios misturam-se com as palavras embelezadas que têm
seus porta-vozes nos beijos – ora dóceis, ora em arrebatamento. Naqueles
fugazes instantes transformados em perenidade, era tudo o que importava.
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