http://famouswonders.com/wp-content/uploads/2010/01/The-Gullfoss-Waterfall.jpg
Irrefreável. Um poço sem fundo
de onde gorjeiam águas tumultuosas bolçando em múltiplos remoinhos. Não há
peias que amputem estas águas. Nem seca que seja travão no arroio que cavalga
no leito pedregoso. Rochas escondidas espreitam quando as águas se amansam no
pino do estio. São o leito atapetado de espinhos que financia a fúria das
águas. Elas trovam o sibilo no meio do silêncio acantonado pela ausência do
lugar inóspito. Emparedadas por alcantilados precipícios, sorvem os metros por
diante em cascatas desesperadas que, degrau após degrau, hão de trinar o sossego
das águas em seu remanso.
Até lá, indomáveis prosseguem as
águas. Nos desfiladeiros onde se acotovelam desenham coreografias caóticas com
o silvo da espuma em constante revoada, deixando finas partículas que compõem
um nevoeiro. Entre as tempestuosas águas que se reviram em cambalhotas sem fim
e a gentia luz do sol entrelaça-se um improvável arco-íris. Os olhos retemperados
na fúria das águas contemplam o fugidio arco-íris que ora sobe, ora desce com as
vagas revoltosas tragadas pela corrente ao tropeçarem nos penedos submergidos.
As águas avançam em velocidade
vertiginosa. Aproxima-se o caudal enfurecido de um salto no vazio. As águas que
podiam ser transparentes embaciam-se num traço grosso pintado a branco. Querem
o degrau que vem a seguir, conhecer as pedras e os musgos por diante, talvez
penhoradas pela ânsia do ainda desconhecido. Despenham-se. Nos breves segundos
no embalo da gravidade suspendem pensamentos. Estatelam-se, bravas, nas rochas
alisadas pela erosão. Como se fosse uma explosão grotesca, um ensurdecedor e
contínuo cantarolar pelo imparável tombar das águas sobre a rocha polida.
Avisaram as águas que a viagem
era impetuosa. Haveriam de ter o seu remanso quando as margens perdessem a alcantilada
forma. Nessa altura, às águas amenas, empossadas num gratificante repouso, seriam
oferecidas as pétalas da saudade. Dos sobressaltos contínuos que as trouxeram
àquela monotonia. Não seria de bom jaez, a monotonia (nem a saudade): assim que
tomassem gosto às primeiras partículas de sal, as águas adivinhavam ser engolidas
pela imensidão do mar. Nem poderiam reclamar-se manancial do oceano. Enfim,
irrelevantes e decantadas no seu decesso.
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