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Quem pode ficar indiferente ao
afã civilizacional dos governantes? Deviam-se levantar estátuas aos homens e
mulheres que acreditam na sua missão heurística. Sem eles seríamos, humanidade
tresmalhada, uma horda macerando na boçalidade. O que vale são os visionários
que aproveitam a sinecura pública e, aos comandos do leme legislativo, se
emproam procuradores da educação dos selvagens que ainda não interiorizaram os
bons hábitos da civilização. É por isso que merecem estátuas (os educadores,
não os educandos): são governantes e ainda lhes sobra tempo para serem
educadores.
Há uma cidadezinha em Espanha (La
Toba) que saiu do anonimato porque o edil local decretou um cortejo de proibições: escarrar no chão, tossir sem tapar a boca
e libertar ventosidades intestinais. Estas proibições só são válidas quando os
atos são praticados em público. Era o que mais faltava o degredo das
boçalidades atingir o remanso do lar.
Alguns e algumas, porventura
incomodados com o efeito inestético dos escarros no chão, da tosse desprevenida
e da flatulência estridente, podiam-me interrogar, chamando a si predicados de
boa educação: e se me cruzasse com uma boçal personagem que escarrasse sem
peias, tossisse sem cuidado, ou desse azo ao ribombar intestinal, não faria
(pelo menos) um esgar de desaprovação? Das três modalidades proscritas em La
Toba, apenas tenho experiência do desporto marialva que é o escarro bem nutrido
a empestar o chão tão imaculado onde pisamos. Se o problema é de acesso aos
padrões mínimos de civismo, não vejo diferença (inestética) entre escarrar no
chão ou fazê-lo para o lencinho zelosamente guardado no bolso das calças.
Um dos grandes problemas da
engenharia social é curar das ações humanas esquadrinhando-as em todos os
pormenores imagináveis. Mas a engenharia social não consegue precaver todas as
hipóteses. Esta, por exemplo: a flatulência só é censurável se vier atrelada à
estridência típica de um foguetório? É que há flatulência silenciosa, um
hipócrita atentado terrorista à pituitária, pois o autor que soltou a arma letal
fica escondido no anonimato do silêncio. A polícia de La Toba só vai punir a
flatulência ruidosa, perdoando a silenciosa? A discriminação pode carregar uma
tremenda injustiça.
A menos que o autarca tenha um
trunfo na manga. Agora que a tecnologia avança mais depressa que o próprio
tempo, e que há sensores para tudo e mais alguma coisa, quem sabe se os
habitantes de La Toba não vão ser obrigados a instalar sensores que detetam a
atividade que solta gás sulfídrico para a atmosfera. Mas para o texto não ficar
mais escatológico, nem quero imaginar a instalação desses sensores.
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