13.4.12

Banco dos reformados


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Poiso certo de meia dúzia de reformados. Estivesse sol, e aquele banco era a sentadura dos indefectíveis extraídos ao mercado de trabalho, nas imediações das centenárias árvores e dos cisnes em episódico grasnar enquanto amaciavam a penugem no lago lamacento. Somadas as suas idades, uns séculos que metiam inveja aos mais novos. E, todavia, os mais novos passavam por eles como se naquele banco não estivesse ninguém sentado, ninguém invariavelmente a falar. Visto de fora, dir-se-ia que é pungente a senescência.
Não para os reformados. Liam jornais, estavam informados. E sabiam que a letargia intelectual era a viciante anestesia de onde jamais se conseguiam erguer. Não perdiam isto de vista: não havia um par de meses que não fossem convocados para funerais. Saboreavam, nesses funerais, o sabor antecipado da morte. Habituaram-se a conviver com a ideia. No fim de cada funeral, encerravam-se numa tasca castiça e arranjavam forças para outra farra (não fosse ser, para um deles, a derradeira farra).
A provecta idade esmerara um cinismo cheio de bonomia. Estavam com os ossos cansados de mais para desenvolverem qualquer sentimento ou ação que apascentasse a maldade. Os olhos decantavam os acontecimentos por diante. Faziam uma leitura serena, já despojada da vivacidade fervente que fora património da idade apropriada. Não se importavam, sequer, que o resto da gente, aquela gente ainda muito atarefada e cheia de ilusões, deles tivesse uma ideia irrelevante. Era como se tivessem deixado de contar. A espessura da sua experiência era, ao que constava, um anátema vindo de tempos que deixaram de importar.
Estavam felizes como julgavam não ser possível. Ensimesmados, que afinal era a frondosa maneira de passar entre os grossos pingos da ácida chuva que retratava o mundo de então. A cada dia que terminava, deitavam-se com  a sensação de preenchimento interior. Os dias assim eram todos ditosos. Ao deitar, já nem importavam as preces de outrora que imploravam por outro dia a seguir.

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