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Às vezes fico com a impressão
que os franceses (lá vai estereótipo) são pouco desembaraçados. Não é por acaso
que a palavra “rococó” vem de França. E que um “rococó” é complicação
desnecessária do que podia ser mais vistoso se primasse pela simplicidade.
A língua também têm o seu quê de
trapos. Não economizam em palavras. A língua inglesa é mais poupada. Não seja
esta comparação entendida como uma desaprovação da palavra, dita ou escrita;
mas se podemos ir diretos ao assunto, para que havemos de estar com rodeios
ornamentados pela semântica picuinhas? Quando estudei francês na escola recordo-me
das fórmulas pomposas, em jeito de despedida, nas cartas remetidas a alguém. A
despedida vinha cheia de arestas. É como se essas arestas vivas fossem uma
armadilha para o destinatário. Um simples adeus envolvido num demorado
arrazoado é o convite para o destinatário nem sequer passar os olhos pela linha
que antecede a assinatura do remetente. Não é prático.
Quando chega à contagem dos
números, dir-se-ia que os linguistas de serviço estavam incompatibilizados com
os matemáticos. A contagem das dezenas é a habitual até se empilharem seis delas.
Daí em diante, funciona o arrevesado raciocínio francês: setenta é
“soixante-dix”, oitenta é “quatre-vingts” e noventa, para tornar a complexidade
ainda mais ostensiva, é “quatre-vingt-dix”.
Nunca mergulhei nas raízes
etimológicas do francês e das suas transgressões à matemática. Deve haver razão
atendível para parar as dezenas à sexta contagem das ditas. Os linguistas de
serviço só sabiam contar até seis? Ou a aberrante reinvenção da álgebra traz
consigo múltiplos encómios aos linguistas, que afinal eram matemáticos ao mesmo
tempo: pois em vez de dizerem setenta, oitenta ou noventa, os nativos e
falantes tinham de fazer cálculos aritméticos básicos (respetivamente: sessenta
mais dez; vinte vezes quatro; e vinte vezes quatro com mais dez em cima).
Quem disse que o exercício da
língua não adestra a flexibilidade mental para o cálculo matemático? Os
linguistas franceses eram uns visionários. Perdiam-se nos escaninhos da
porventura inútil complexidade. Mas estavam três passos à frente dos linguistas
de outros idiomas, estes de costas voltadas para o cálculo.
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