In http://joaoesocorro.files.wordpress.com/2012/04/rei-da-espanha-e-alvo-de-criticas-por-cacar-elefantes-na-africa-280x200_q85_crop.jpg?w=500
Esta é a historieta do reizinho
de Espanha que foi ao Botswana caçar elefantes e veio de lá com uma anca
escaqueirada. Os adversários da monarquia aproveitaram para decretar a
senectude do monarca e, por arrastamento, da monarquia.
Aqui há tempos li notícia sobre
uma biografia não autorizada deste rei. Se o retrato for fidedigno, aquilo é um
rosário de anti-exemplos. Por entre relações familiares de fachada, fez-se
constar que o rei tinha, desde a tenra idade do exílio em Cascais, hábito de
frequentar meninas da vida. (E o verbo vem no passado porque, a menos que seja
bom cliente das farmácias – como um certo presidente de um clube de futebol de
cá – e esteja viciado no comprimido azul, não se adivinha que consiga manter o
hábito na idade a que chegou.) E eu pergunto: não pode o senhor ter os seus
gostos pessoais?
A resposta, ensaio-a na forma de
comparação herética entre o soberano do país do lado e o modesto narrador, um anónimo
zé-ninguém que só tem responsabilidades sociais junto de audiência mais
restrita (a que se enquista nas relações pessoais e profissionais). Suponho que
a imagem quase angelical (a do narrador que se assina) estava fadada à diluição
se fossem descobertos os privados vícios atribuídos ao monarca do país do lado.
Como o monarca tem responsabilidades muito superiores às do narrador que se
assina, não arranjo maneira de perceber a condescendência acrítica com que os
seguidores aplaudem as façanhas reais.
E não pode o senhor soberano
gastar mais de trinta mil euros para uma caçada ao elefante no Botswana? Lá, no
país do lado, têm uma relação atribulada com animais (só para soletrar:
t-o-u-r-a-d-a-s). Antes de se lançarem os mastins ao senhor rei, convinha
perguntar aos críticos se são todos contra as t-o-u-r-a-d-a. Para não ficarem
contaminados pelo pecado capital da dissonância.
O Juan Carlos pode fazer o que
lhe apetece? Não será tão líquido. Ele não é um exemplo para os garbosos
cidadãos espanhóis que ainda deificam a monarquia? Ou será que os apoiantes da
coisa regressaram à ideia deificada de monarquia (o soberano pode fazer o que
lhe apetece, porque é rei e o rei é intocável e está acima das críticas)? Por
falar em divindades, quase apetece glosar aquela ideia de deus que escreve
direito por linhas tortas. O septuagenário rei dali ao lado quis fazer a
triste, anacrónica figura de ser caçador de elefantes. Teve a paga que mereceu
(por linhas tortas): não se sabe se trouxe provas do troféu caçado, mas sabe-se
que veio de lá com a anca atada por gesso.
É nestas alturas que apetece
desconfiar que um deus qualquer existe.
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