Pond, "O Dharma", in https://www.youtube.com/watch?v=RGmv7r3l9qM
Não há pressa. Nem relógios que boicotem
a vontade, quando o tempo, na sua marcha vigorosa, rema contra a vontade. Numa
alvorada, damos conta que deixamos de estar sitiados pelo bordão do tempo.
Passamos a ser seus tutores. Como se montássemos no dorso de um corcel e o
domássemos, por mais que julgássemos ser empreitada impensável antes de
metermos as esporas nas costelas do corcel. Pois se nos emparedamos pelo
bulício dos relógios, que não param a não ser que fiquem à mercê de pilhas gastas
ou deles sejamos fautores de um boicote que embacie a sua marcha.
Enquanto formos donos do trono em que nos
engalanamos, interrompemos o tempo. É quando, contrariando os cânones, o tempo
fica à nossa mercê. E dele fazemos o que quisermos. Extasiados perante o
império diante dos nossos olhos, o império que os nossos dedos encenam com a
paciência dos predestinados, mandamos no tempo. Paramos o tempo, nas poucas
vezes que nos for permitida a ousadia, quando a suspensão do tempo for uma
graça para contemplar as proezas de que somos curadores. Ou arrastamos o tempo,
porque tudo à nossa volta é belo de mais para ser desgastado com a erosão
própria do tempo. É como se entre as veredas naturais do envelhecer tivéssemos nas
mãos o elixir da juventude eterna, pois o tempo passa devagar sob a nossa
alçada.
As horas são dias, os dias são meses e os
meses constituem-se anos. Rejuvenescemos o próprio tempo. Desembaciamos o
horizonte para onde os olhares almejam. O tempo é vagaroso, uma astuta quimera
que vem cozinhada pelas mãos nossas entrelaçadas. À volta, por entre o ouro
pendido e o perfume dos arbustos primaveris, esvoaçamos: porque a nós veio a
graça de quem é dado domar o tempo. Não é sonho, nem fantasia, ou sequer a transigência
com uma dimensão paralela da existência. Somos nós, e só nós, domadores do
tempo, imperadores do que tanto que é nosso império.
Imperadores que somos, em modo absoluto,
fazemos do tempo o que nos aprouver.
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