Nick Cave and the Bad Seeds, "Jubilee Street (live at Glastonbury), in https://www.youtube.com/watch?v=-VdIEOMHHsE
Não é a beleza do mundo que está em
causa. Não se diga que é uma latrina, irrespirável como são os lugares onde o
ar é nauseabundo. Mas há podridões que tomam de assalto as consciências. Isto
das consciências tem muito que se lhe diga! Falam das consciências como se cada
um de nós tivesse de ser policiado pela sua própria consciência; e a
consciência assim apascentada fosse a testa-de-ferro dos honráveis meandros da
moralidade imposta.
Perturbações com a consciência: ele são os
sobressaltos do passado, as vergonhas pretéritas, as vigílias ao outrora que
massacram o tempo presente. A mania dos feitores da moralidade é patrulharem as
verrugas que enxovalham quem nelas transita, pois são nódoas negras que mancham
de vergonha. São céleres a apontar o dedo aos podres que não são os seus, pois
os seus ficam escondidos numa dimensão oculta aos olhares que, como os deles,
são alcoviteiros. E, todavia, todos temos podres. Talvez a começar pelos que
cavalgam a função de esquadrinharem as sobras das vidas alheias só para,
triunfantes, fazerem soar as trombetas que anunciam novo escândalo.
Os escândalos vivem sempre na porta do
lado. Ao lado da porta do lado, que é a porta que aloja os vigilantes dos
demais, o ar respira-se numa pureza ímpar, a alvura empresta-se aos muros
caiados de pureza. Apetecia dizer: devia haver quem patrulhasse os meandros
destes vigilantes ignóbeis. Mas não se diga tamanha coisa, pois decaímos num
jogo que deploramos. Olhemos de frente para os podres que são os nossos. A
condição humana nunca quis ser tutora da perfeição. E depois ripostamos a quem
nos verbera: “o que têm a ver com isso?”
Os podres pertencem à intimidade de cada
um. Se são descobertos e um sequaz do mundo composto alvitra publicitá-los para
que o mundo inteiro deles tome conhecimento, que a vergonha recaia em quem
cuida da revelação. E não em quem foi apanhado no alçapão de uma qualquer
podridão. Pois que estas podridões o são por causa dos pergaminhos falazes de
uma moralidade malsã. É gente que devia praticar o que prega. Nessa altura,
talvez, os podres viessem despidos do que têm de pejorativo. Para sermos gente
mais saudável.
Sem comentários:
Enviar um comentário