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Nos ginásios não se cultiva só a forma
física. Também se cultiva a boçalidade, se contarmos com as conversas
educativas que os ouvidos não podem recusar ouvir quando é tempo de estar no
balneário. É lá que o marialvismo primário de alguns varões é acicatado.
Pelos ginásios onde tenho passado há
sempre episódios destes. Machos que se empenham em mostrar como são machos, e
como da sua máscula condição é matéria-prima fundamental o amesquinhamento da
mulher. Aprende-se. Que as mulheres, afinal, são entes menores da condição
humana. Que gostam de ser maltratadas e humilhadas, pois um marialva que dos
pergaminhos tenha garbo tem de remeter a mulher à inferior condição que lhe é
inata. As mulheres não devem saber do adultério dos consortes (outra identidade
necessária para identificar um homem a sério – já ouvi uma aberração em forma
humana dizer que homem não adúltero é meio homossexual!); e se elas tomarem
conhecimento, é seu dever condescender. Nunca ouvi estes exemplares da
boçalidade masculina a teorizar sobre o oposto, talvez porque estejam convencidos
que as mulheres são seres inferiores e, por inferiores que são, lhes devem
submissão.
Alarvemente, vomitam frases com máscula,
muito máscula entoação, coisificando a mulher. A começar pelas próprias
consortes, que assim acabam destinadas a uma servidão que não há de ser
diferente da praticada pelos árabes que as ostracizam por via de lei e de
religiosos mandamentos. Às vezes, arrotam proezas carnais. Não interessa que os
que não participam na conversa não estejam interessados no exibicionismo. É
quando lembro do adágio popular que fala do cão que ladra mas que fica longe de
morder: quem assim se exibe terá um sério problema de afirmação. A prosápia
fica a falar pelos feitos com que sonham – mas apenas sonham.
Os balneários de ginásios devem libertar
uma qualquer substância química que desinibe a bazófia varonil. Podem não se
conhecer de lado algum, os convivas que vão empestando a atmosfera com inanidades
boçais. Mas é lá que ficam lavradas as exibições viris da bestialidade
masculina que esconde, ó lá se esconde!, tantas fragilidades. Mas não convém
dar o braço a torcer: assim como assim, o homem é o “sexo forte”, presumindo-se
que a mulher seja o fraco. E dos fracos não reza a história.
Quando levo com estas aberrações
oratórias, compreendo, por uns instantes, a existência de feministas
fundamentalistas. É como os sindicatos: são execráveis, mas perante patrões (ou
varões bestificados, no caso das feministas) embebidos de selvajaria, têm de
existir para contrapesar tanta chavasquice intelectual.
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