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Os adjetivos são como as ervas daninhas
do jardim. Florescem tão rápidas, sobrepondo-se às demais relvas que provam a
sua sanidade. E, contudo, é um prazer rastrear o jardim à cata das daninhas,
tirando-as pela raiz, cerceando a sua área entre as ervas que têm serventia. É
o deleite de as ver decepadas, antes de o íntimo prometer a mesma tarefa quando
depois os olhos mapearem o jardim em demanda de novas daninhas.
É assim com os adjetivos num texto.
Reforçam ideias. Caucionam figuras de estilo que – julga o escritor – embelezam
o texto. Às vezes, os adjetivos são palavras com força, emprestam ênfase ao
texto. Mas, às vezes também, é fácil escorregar para o exagero de adjetivos.
Pode ser da atração pela palavra, pela sua pluralidade, que desata a procura de
adjetivos atrás de adjetivos. O texto afunila. Torna-se baço. Pode exibir uma
erudição que é tangente à sobranceria. São arabescos que vêm em cima das
palavras que deviam ser nutrientes da simplicidade, mas perdem-na logo que são
colonizadas pela abundância de adjetivos.
Raramente uma frase é um deserto de
adjetivos. Há textos que repetem frases enxameadas de adjetivos, às vezes num
abuso através da multiplicidade de adjetivos que servem a mesma frase. O texto
deixa de ser linear. Enfeita-se de curvas, de muitas curvas, que distraem o
leitor para o acessório. Talvez a simplicidade das letras dispense adjetivos.
Pois os textos devem limpar toda a água que não é precisa. Contrapõe-se que os
adjetivos são ornamentos da literatura. Que ninguém os declarou proscritos. Nem
tal seria admissível, pois seria entorse à liberdade de expressão. A
subjetividade deve curar do resto. Dos autores que abusam da adjetivação, podem
os que não se reveem no estilo descartar as páginas que eles selam.
E já que há tantos dias mundiais de tanta
coisa, podia alguém, ilustrando hostilidade aos adjetivos por os considerar
ervas daninhas, declarar o dia mundial sem adjetivos. Para, ato contínuo,
dissertar sobre o assunto num texto (de preferência) sem adjetivos. Como este. Segundo
a incongruência de quem se lembrou de largar a artilharia sobre os adjetivos
quando, nos dias outros, neles é prolixo.
(E lá veio um adjetivo infetar o texto
que se queria deles isento).
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