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Que pior pode fazer à lucidez de um homem
que o mercado de banalidades que enxameiam o pensamento dos lídimos sacerdotes
que se julgam portadores de influência sobre os demais?
É como um parafuso diretamente assestado
cérebro dentro, uma dor excruciante a subir desde as narinas até ao córtex
central, tanta a aflição que degenera em anestesia. E, anestesiados – pois será
esse o propósito das banalidades –, estamos à mercê do pensamento rasteiro.
Aquele que nos ensina o que não precisa de lição. A menos que se considere a
hipótese do ultraje às capacidades cognitivas da pessoa comum: se elas forem
apoucadas, de tal forma que temos de levar com sacerdotes no exercício da
função, a espécie mergulha para o seu próprio esgoto antropológico. Não faremos
grande diferença de um bando de cavalos a trote: pelo sedoso, vistosos,
deixando o observador extasiado perante tanta beleza; mas bestas sem
raciocínio, sem nada que faça jus à condição humana, carentes de manipulação por
gurus do lugar-comum.
“A vida é bela”, reza o oráculo, como se
fosse preciso lembrá-lo no vetusto preceito de quem precisa de mnemónica para
não ser atraiçoado pela embaciada lucidez que tomou conta dos atos todos. A
vida é bela – ou não, pois depende do ângulo pelo qual os olhos a encaram, depende
do feitio que se põe a preceito ou não com os dias que ora nascem luzidios, ora
alvoraçam bisonhos. Os tutores das banalidades são parasitas, querem ter mão no
bem-estar mental dos outros, dos que eles julgam que estão ausentes da ladainha
que bolçam em forma de banalidades.
Aos curadores das banalidades:
ensimesmem. Pois das vossas maleitas, cujas terapêuticas irrompem os manuais do
conhecimento vulgarizado, podem sucumbir. Imaginem que ninguém vos dá ouvidos.
Imaginem que, de repente, não há vivalma que se deixe enternecer pelos adágios
que recordam como se tivessem feito a maior descoberta depois das vacinas
contra doenças mortais. Sem audiência, que seria de vós? Eu adivinho a solução:
morreriam asfixiados no próprio vómito que é o fluxo abundante das banalidades
que debitam.
A vida é bela; e depois? Quem o não sabe?
Se até os mais pessimistas, os que pressagiam as cores plúmbeas para a
existência, no seu íntimo o admitem (ou seriam suicidas compulsivos, sem
esconderem a falta de coragem para retalharem a própria existência).
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