In http://cmarinsdasilva.com.br/wp/wp-content/uploads/2011/08/espiao-veja.jpg
(Mote:
a Alemanha expulsou agente secreto que andou a contra-espiar o que não devia a
pedido dos Estados Unidos – ou: como é feio saber das coisas íntimas dos amigos
à revelia deles)
Jogo duplo. Espiões que fazem o trabalho
sujo para os dois lados é um romance que pensávamos ter terminado com o fim da guerra
fria. Parece não ser o caso. Agora até os amigos se espiam mutuamente. Não vou
ao fundo da questão para tentar entender o que leva um aliado a querer saber os
assuntos que outro aliado decide classificar como secretos. Talvez seja o mote
para antropólogos ou sociólogos, para concluírem acerca da propensão de muitos
para saberem da vida dos outros através de revistas cor-de-rosa (por exemplo).
Todavia, o submundo dos serviços secretos
não quadra com as coisas mundanas que passeiam nas páginas da imprensa
especializada em ditos e cochichos. É a ralé da política mundial, pois não
deixa de ser feio gastar rios de dinheiro com espiões e parafernália
tecnológica de apoio às atividades de espionagem. Quando entramos no espiolhar
do que fazem os países amigos, saímos dos limites da compreensão para o
fenómeno. Admito que a tolerância para a existência de serviços secretos é
mínima, de nada valendo a argumentação tosca dos seus defensores (dizem que saber
segredos dos outros evita males maiores; e assinam o pretexto de que sempre foi
assim e não é agora que vai mudar).
O palco montado para a função: o espião
alemão desdobra-se na sua dupla identidade. Espia para a Alemanha e contra-espia
para os Estados Unidos (ou será ao contrário?). Os alemães saberiam do jogo
duplo? Aguentaram até quando deu jeito denunciar a situação? Deixaram o contraespião
ter acesso a informação falsa, para enganar quem pagou a contraespionagem? E os
americanos, estariam confortáveis na posição imunda de quem paga a um
subordinado de outros para trair a confiança de quem lhe paga o salário
matricial? Podiam os americanos ficar sossegados, pois quem espia e
contra-espia pode a certa altura virar o tabuleiro do avesso e contra-espiar
contra quem já estava a contra-espiar?
A espionagem presta-se a estes equívocos.
Está refém de comportamentos ambíguos. É o lugar onde a confiança é palavra vã.
A ganância dos homens trata do resto. Os proveitos desmultiplicam-se quando os
espiões passam a jogar dos lados do tabuleiro. E os aliados, que segredos dos
seus aliados querem estroncar? São aliados quando assim se comportam?
Não vinha mal ao mundo se os serviços
secretos fossem extintos. Ingénua proclamação – estou ao corrente do juízo. Há,
contudo, ingenuidades que são mais crescidas do que os adultos preceitos que
nos regem.
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