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Isto já não é o que era dantes. O “DDT” – “Dono
Disto Tudo”, como o rosto do BES gostava de se chamar a si próprio – pagou uma
caução de três milhões de euros para não ficar na prisão à espera de
julgamento. Algumas vozes oraculares asseguram que isto é tão tonitruante como
uma mudança de regime. Não vou no exagero, para não misturar dois domínios que
deviam andar sempre separados (mas não andam): política e economia.
Primeiro: ser banqueiro tornou-se uma profissão
de risco. Por todo o lado. Há banqueiros bem colocados que caíram em desgraça.
Uns, arruinados. Do mal o menos, pois outros houve que deram com os ossos na
cadeia. Os desconfiados dirão que banqueiros destes amealharam muito ao longo
do seu longo magistério. Não merecem condescendência. Um houve, protegido do
guru da economia e finanças que um dia viu confirmado o sonho de ser presidente
da república, que tão mal se portou que não se livrou da prisão, nem nos
livrou, pagadores de impostos, de pagarmos todos os anos um quinhão da fatura.
Outro não fez jus ao nome: dizia-se rendeiro, o que rende e faz render, mas não
soube puxar os galões ao epíteto e estatelou-se na falência. O mais recente
agraciado com a desgraça nem com uma mãozinha do Espírito Santo pôde contar (o
que daria pano para mangas se a conversa se desviasse para assuntos de
metafísica).
Segundo: afinal não se cumpre a maledicência
dos que, da esquerda para a esquerda, juram a pés juntos que os senhores da
alta finança são um Estado dentro do Estado, com avultadas regalias do mundo da
política, tratando a justiça com sobranceria, sabendo que a justiça não os
atinge com a sua luva sargaceira. Às vezes há motivos para esfregar o brilho da
esperança: a justiça tarda, é lenta, mas faz o seu caminho. Ditando para a ata
que a justiça é dona de um galho que não é invadido por políticos e senhores da
alta finança. É nestas alturas que os putativos DDT ficam com um tremendo amargo
de boca.
Terceiro: tão mal andam os banqueiros, com a
honra enxovalhada, desapossados de parte importante da sua abastança, correndo
o risco de serem insultados se meterem um pé à rua, que era a hora dos
habituais tutores dos desprotegidos desembainharem a espada em sua defesa.
Teria dois méritos, a ideia. À uma, veríamos os da esquerda para a esquerda
desviarem as suas justiceiras causas para um alvo insólito. O inesperado é das
melhores recompensas que o porvir semeia para memória futura. Por outro lado,
os da esquerda para a esquerda perdem um inimigo de estimação. Ainda restam
outros banqueiros para o abate seletivo, até que um dia os bancos sejam (assim sonham)
todos nacionalizados e os da esquerda para a esquerda exultem, excitados.
Enquanto o nirvana não vem, deviam acolher em seu regaço os banqueiros caídos
em desgraça. Pois não é a esquerda, do centro para a extrema dela, que se ufana
de proteger os desvalidos?
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