Teho
Teardo and Blixa Bargeld, “What If”, in https://www.youtube.com/watch?v=RV9opcVjJFM
E se jogarmos muitos
“ses” nas frases? Será que o pensamento fica embotado? Será que desvinculamos
da lucidez que julgamos nossa tutora? E se vierem as penumbras que põem tudo em
alvoroço, as verdades (que assim as tínhamos) agora transfiguradas em dúvidas
transidas em serenidade?
Olhamos por dentro de
nós, ajuramentamos a fidelidade a um fio de prumo que temos por imparcial. Olhamos
para o exterior, para o vento que esbarra na janela. Tentamos fazer a bissetriz
dos ventos, mas não encontramos nenhuma rosa-dos-ventos que tenha préstimo. A
certa altura, nem sabemos onde param as rosas-dos-ventos, que levaram sumiço no
fio do horizonte. À primeira vista, dir-se-ia estarmos tomados pela mais pura
desorientação. Os equinócios perdiam sentido, as balsas não protegiam do
naufrágio, as uvas davam vinho azedo e as palavras ditas em idioma estrangeiro vinham
mal traduzidas pelos préstimos medíocres de tradutores arregimentados para o
boicote. Os pólenes das flores eram veneno sagaz. O mar perdera o sal e os
lagos e rios tomaram em si todo o salitre de que os mares eram fiéis
depositários. Diríamos: tudo estava do avesso e nós numa peleja por
continuarmos à tona, deixando o naufrágio para os outros.
Foi quando percebemos que
o ocaso das coisas era produto da corrosão dos outros. Nem por inação podíamos
ser julgados. Quando se jogam as vontades alheias, somos atores passivos, passageiros
dos acontecimentos. Deixamos a ignomínia aos que a praticam. Admitimos que os
despojos da indecência se podem deitar sobre nós, sem que possamos terçar armas
que se oponham à catilinária. Depois, sobram as perguntas que já deviam ter
vindo a palco. As perguntas dantes em letargia para não ferir conveniências. Ou
das perguntas adormecidas por lírica rejeição dos contumazes que habitam
paredes-meias com a ignomínia. É quando se soergue a derradeira interrogação,
antes de passarmos ao que verdadeiramente conta: somos, ou não somos, párias no
palco por onde transita a indigência maior que nos quer com ela levar?
Encerrado
o capítulo, desponta outra, radiosa, alvorada.
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