Stereossauro
(Fiat. Skillaz), “Sheik”, in https://www.youtube.com/watch?v=oeS_cZhobE8
Acordo já os outros
almoçaram, o sono pegou de estaca já era tarde, não deixo nada pela metade. Há
cenas de pancada, rave nos armazéns
abandonados, pastilhas que dão para aguentar quarenta e oito horas de seguida.
O skate é companheiro. Arranjo asfalto para as rodas gastas. Quando é
longe meto-me no comboio à pala.
Sou mestre em cravar
borlas. No tabaco, na roupa só um pouco gasta que os queques de Cascais vendem
para comprarem o pó ou para contratarem meretrizes de luxo, nas bebidas da
discoteca, no guito emprestado quando uma donzela voluptuosa cai no regaço e a
tenho de levar a jantar. E a pedir emprestado a outro para pagar o suprimento
que vem trás, e assim sucessivamente.
Sou perito em arrastar a
asa. Fui fazendo a minha fama. As donzelas ficam febris quando meto conversa.
Prometo afagos em troca de desejo. Não me importo com o resto. Os lençóis
desarranjados são testemunha dos pergaminhos.
Não renego ser macho
alfa. Tenho seguidores. Ouvem falar das proezas minhas e querem ser émulos para
a contabilidade das conquistas. Não lhes ensino nada. Que aprendam a seu custo.
Também não fui ensinado (a não ser por uns filmes sugestivos que os mais velhos
traziam do videoclube).
À noite, nunca sei em que
cama vou descansar. Na minha peugada deixo uns vestígios de charme que as
donzelas carentes e outras explosivas gostam de tomar entre mãos. Deve ser da
frontalidade das palavras, das palavras cruas que sirvo em bandeja fria.
O arrasto marialva não
hipoteca as responsabilidades do gangue. Espalhamos terror – acusam os que não
percebem da poda. Nós dizemos que espalhamos respeito. Somos como Robin dos
Bosques, numa variante moderna. Só nos apoderamos de propriedade alheia quando
sabemos que é de gente abastada. Redistribuímos. Somos socialistas. Connosco
mesmos. A nós a partilha do pecúlio.
E se à noite um rival se
encosta a mim no balcão das bebidas, não pergunto se quer sentir o calor do meu
corpo; colo-lhe na testa o calor do meu punho. Os irmãos do gangue têm a
discoteca controlada.
Sou rei. Rei de um
reinado feito por irmãos de armas. Sou o maior das redondezas. E as redondezas
já são miúdas para a minha dimensão.
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