Pond, “Man
It Feels Like Space Again”, in https://www.youtube.com/watch?v=iNbPg6zKmPI
Afaga na bolsa dos
interiores pensamentos a bissetriz de todas as coisas. Tira as medidas. Com
vagar. Verás que palavras fortes como “diferença”, “singular”, “radical”,
“intensidade” virão ao de cima. Talvez peças meças aos que de fora são tua
ilharga. Ao alto em baixo, de todos os lados, notarás que todos são um pouco da
tua antítese. Foi quando notaste uma convocatória irrecusável: subirias à torre
de marfim, onde a tua provável sociopatia podia ser confirmada. Ou não.
É como se fosse um retiro
(sem as peias de uma religiosidade qualquer). Proeza que se mede pela bitola de
um desafio. Perguntas ao sangue que te percorre por dentro se conseguirás
superar o repto da solidão. Qual será a medida do tempo que afiança essa
condição, antes que julgues ter chegado o momento de seres devolvido à
civilização onde medra gente? Convence-te: não podes desviar da direção
programada, distraído por colaterais minudências. Não é o método que conta; é a
perseverança da intenção.
Tempo depois, ao cabo de
noites sem sono, de noites assaltadas por pesadelos medonhos, de tempo a fio de
depuração dos interiores pensamentos, de todo o tempo (que nem sabias quanto)
em que notaste a humidade a corroer as dobradiças das janelas, extenuaste da
função. Não foras feito para te suportares a ti mesmo sem teres de protestar
com alma alheia. A certa altura, convocaras a indigência a ti mesmo.
Perguntavas às paredes frias se não serias a pior pessoa do mundo.
A torre de marfim levitou
as questões incandescentes. As perguntas que, de outro modo, não teriam palco. Não
sabias (nem querias saber) se o exílio voluntário na sufragada solidão faria de
ti pessoa melhor, ou sequer pessoa diferente. Podiam alguns contrapor que esse
era o desiderato. Desestimando a observação (que até podia ser atilada), só te
interessava a lente diferente com que vias as coisas todas. Depois. Depois do
exílio voluntário. Não era mister aclarar da bondade da torre de marfim. Contentavas-te
com o exercício, a decantação necessária. Como se grande parte do tempo já
gasto resumisse as funções vitais que eram teu norte sedimentado.
Talvez a torre de marfim
tivesse ensinado uma nova rosa dos ventos. Mas não havia certezas. Continuava a
não haver certezas. Como dantes.
Sem comentários:
Enviar um comentário