Eels, “The
Deconstruction”, in https://www.youtube.com/watch?v=59Au8TUVakg
O tempo que passa pela idade tem
a virtude de embrandecer a alma, de a despertar para janelas outrora encerradas
no sepulcro das sete chaves. Pode-se dizer que acontece por cansaço dos dogmas,
por algum fogo ateado aos alicerces que tem o dom paradoxal de os consumir – e,
em sua combustão, atirar ao chão a semente da diferença. Ou pode-se dizer que a
alma amaciada pelo totem da idade marejada consegue ligar o olhar à corrente
das correntes que dantes não foram credoras de atenção. Seja como for, o método
exige desconstrução, como os dados são lançados a jogo – os dados que desbotam
o lacre das atenções que fruem com o ângulo novo convocado ao olhar.
A desconstrução pode ser um módico
para engavetar a rotina no lapso a que se diz pertencer. Ou pode ser um
profundo terramoto, uma maré indomável que inquire as âncoras que se julgavam
estruturais. A predisposição para aceitar os lados diferentes que dantes se
ignoravam, ou a que se retirava importância. A desconstrução parte de uma nova
equação. A equação esvazia a metodológica contundência do pretérito. Pode até
incluir variáveis que já tinham sido recusadas dantes. No lampejo da mudança
que é o substrato do princípio geral da desconstrução, deixa de haver lugar aos
preceitos que eram doutrina. Pode ser um precipício em forma de desafio, ou um
contratempo que é alfândega para sucessivas interrogações inquisitivas, ou
apenas a vontade de aportar a um lugar diferente, a um modo diferente – à diferença
que se subsume na vontade da diferença. A distância percorrida, por maior que
tenha sido, deixa de contar. Deixa de importar o caminho arroteado. Esse é dado
como adquirido. Não lhe é imputada serventia para o tempo vindouro.
Desde a desconstrução heurística,
não se façam hastear as bandeiras ufanas que certificam o desiderato. Haja a
modéstia de admitir que o princípio geral da desconstrução é apenas um método,
não é um fim. Um método é um começo; não é fiador do resultado que, através
dele, se quer obter. É, ao mesmo tempo, um sinal de sobressalto: através da
desconstrução imperativa, parece que se volta à casa da partida. Outra vez.
Não tem mal. Volte-se à casa da
partida as vezes que forem precisas. Pois a desconstrução pode levar o corpo e
o pensamento pelos corredores de um labirinto até se intuir o seu esgotamento:
se o impasse for irremediável, a desconstrução foi um logro. Sobram mais
ensaios, mais retrospetivas recusadas como convite a outra tentativa de
desconstrução. Nem que seja pela inclinação pelas obras eternamente inacabadas –
o sublime corolário das pessoas. Para isso, são precisas desconstruções a eito.
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