15.11.19

Eu coço as tuas costas e fico à espera que tu coces as minhas


Russian Baths, “Parasite”, in https://www.youtube.com/watch?v=DMdhGyPWSWE
Vamos falar de monopólios e de concertações de esforços entre pares e de corporativismos. Vamos falar de coçar as costas uns dos outros, uns aos outros, quando uns precisam das unhas macias dos outros e estes ficam à espera de retribuição equitativa. Vamos falar dos que amesendam num lugar de acesso reservado ao escol e fazem pose quando outros, os “candidatos ao estatuto”, reclamam um pequeno lugar que não distrai as atenções do escol entretanto elevado ao papel de escrutinador – como se fosse possível ser jogador e árbitro ao mesmo tempo. E vamos falar do consenso surdamente estabelecido, para nem migalhas deixarem para os que se candidatam ao estatuto, ou o querem manter em sua modesta estatura no cosmos a que estão condenados a serem atores residuais. 
Os pajens do reino, devidamente industriados, exigem aos forasteiros o que transigem quando coçam as costas de um semelhante. É o preço de um monopólio, em rigor, do privilégio que dividem entre si, obnubilando a concorrência entre eles, condenando os utentes a padrões inferiores (mas sempre julgados como superiores). Em vez disso, escudam-se reciprocamente nas alcavalas de um estatuto que confere direitos adquiridos, consentâneos com um dom iluminado herdado de sucessivas levas e que, por ser adquirido e firmado em registo de intemporalidade, não se questiona. O que se questiona é o topete de uns arrivistas, neófitas personagens à margem (daí serem marginais – e, talvez por ato reflexo, destinados à marginalização).
Os personagens devidamente iluminados, por direito herdado por estatuto tatuado na incomensurável autoridade entre pares, passeiam alguma pesporrência intelectual, devidamente disfarçada para a pose de julgadores entre pares não ser ostensiva. Só sabem dançar se a música entoar padrões duplos. Pois entre si baixam a guarda e selam, com assinatura antecipatória, o zelo da qualidade quando estão de atalaia aos seus semelhantes. Não acautelam um axioma da grelha de análise que usam na profissão: desconhecem a imparcialidade, a não ser na retórica oca que se esgota na mudez das palavras imediatamente a seguir a serem proferidas; quando sobra a mudez dessas palavras que auto-inocentam quem as profere, fermentam os vieses. Entre pares são pródigos na generosidade, não poupando nas genuflexões que artilham a grandiloquência dos que se sujeitam ao escrutínio. Fosse esse o estalão quando escrutinam quem não pertence ao escol.
E coçam-se as costas, reciprocamente, demoradamente – perenemente. Alérgicos à concorrência, descendo a exigência quando um coça as costas do outro, à espera que, depois, um seu par venha cobrar a deferência. Distraídos, nem percebem como dão o flanco: de tanto afã em registarem a marca dos privilégios (que já são incontestáveis), só descansam quando asfixiarem quem menosprezam. Sem darem conta, dedicam à concorrência obliterada o maior dos elogios por palavras travessas.  
(Qualquer semelhança com a avaliação de universidades é mera coincidência)

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