Thom Yorke, “Anima”, in https://www.youtube.com/watch?v=TdmWJZEbJBU
“De que serve uma moratória, se não temos a certeza do tempo?” Não era por o horizonte trazer o céu agora sem nuvens que o sinal de lucidez tinha lugar. A interrogação podia ser revirada: “se não sabemos do amanhã, como sabemos o que está contido na moratória?” Possivelmente um nada, se o tempo com tempo para o lugar da moratória for tempo ausente. Mas, às vezes, temos de alinhavar uma moratória. “Não estamos preparados para acertar no tempo presente umas palavras raras, uma empreitada nunca experimentada, um ato que possa ser imorredoiro”. Se ainda não é tempo, não é o tempo que se adia: são as palavras raras, a empreitada nunca experimentada, o ato que possa ser imorredoiro. Esperamos pelo tempo. O tempo que seja certo, na sempre subjetiva medida que o compensa. Do tempo sabemos ter sempre a sua medida, o seu lugar. O que é amovível são as palavras raras, a empreitada nunca experimentada, o ato que possa ser imorredoiro. A moratória estabelece a diferença entre o tempo e o alcançar do que se submete ao adiamento. “Às vezes, a moratória é o ato corajoso.” Contrariando o lugar-comum de que os timoratos têm medo do presente e deixam que o tempo vindouro, na sua ampla indeterminação, seja fautor do que parece terem medo de alcançar agora. “Repito: às vezes, a moratória é o ato corajoso. Encerra a coragem de intuir que o tempo que corre não é a medida certa para o que acaba por ter adiamento.” Os eternamente insatisfeitos podem protestar que este é o compêndio certo para a inação. De moratória em moratória, extinguem-se no fio delgada da desmemória as palavras raras, a empreitada nunca experimentada, o ato que possa ser imorredoiro. Não sabemos dada do futuro. Não podemos antedizer que esse é o resultado esperado de uma moratória. Não podemos atestar que uma moratória está na origem de uma próxima moratória, e assim sucessivamente, até nada restar do purgatório do tempo pretérito. A moratória é quando tem de ser. Se for corajosamente entretecida.
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