DIIV, “Horsehead” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=vKw-o87s8L4
Que fazemos com a culpa? Estreita-se o pensamento num quadro caiado, enquanto se aceitam os rumores da antecipação. Que fazemos com a culpa? É a interrogação que não tem sede no umbral da memória. A interrogação que mais conta é outra: o que é a culpa? Vem determinada do exterior e impõe-se sobre as arcadas dos nossos comportamentos? Ou é apenas um juízo da consciência, e a consciência reproduz-se num processo de autodefesa que termina como uma ilusão de si mesma? No cortejo de interrogações, talvez haja tempo para aligeirar os ventos iracundos que sobram de tempestades, todas elas pretéritas. E perceber que se foram pretéritas, as tempestades deixaram de contar para os cálculos que importa fazer. É como se fosse preciso encontrar um fuso horário, novo. Reorganizar conceitos, na indistinta fusão que desagua na maresia herdada. A moldura refaz-se nos interstícios da paciência. Devolvem-se ao poço fundo, imemorial, os fragmentos que evocam sobressaltos. Não se evitam os sobressaltos, possíveis a toda a hora; rejeitam-se os de antanho, para encobrir a culpa que se disfarça numa nuvem pesada de angústia. Os ossos sentados na medula dos sentidos descobrem um novo sentido. A moldura traz à superfície um novo portfolio. Desenganem-se os profetas enegrecidos: não é um disfarce da culpa, o novo portfolio. É um olhar diferente, reinventado, que levanta âncora de um cais encontrado num novo mapa. Os conceitos gastos perdem validade. Não é um ardil. O repensar acautela a nova forma que é o novo desenho da alma. Não é uma fuga; é a nova moldura que encerra os limites do ser. As culpas todas, arquivadas na mnemónica do porvir, foram atiradas para a nova gramática de onde se reordenam as coisas em sua maciez futura. Abotoa-se o portfolio em agasalhos sem memória. A dedução dos oráculos é um erro sem remissão. Ao menos isso. A culpa é a confissão da humildade.
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