26.12.19

O que faço com estas ideias tomadas de empréstimo? (short stories #184)


Mão Morta, “Chabala”, in https://www.youtube.com/watch?v=HT_l_v3LTew
          Não é uma corrida contra o tempo. As interrogações estão em espera. Não sei como lhes responder. Umas ideias candidatam-se a esteio sem o qual as interrogações ficam desertas. Inspeciono as ideias? Digo, desconfiado: elas não são minhas; poderão ter serventia? Desconfio porque as ideias, não sendo de minha lavra, autorizam-se por empréstimo. Provavelmente, não é o melhor critério. Acrescento: não sendo de minha autoria, como podem essas ideias fornecer o critério válido para interiorizar as interrogações? Uma interrogação medra no imediatismo da anterior: e que ideias pode alguém tutelar como sendo sua criação exclusiva? Sei a resposta para esta interrogação: nenhumas. Mas há ideias tomadas de empréstimo que não conseguem ultrapassar esse estatuto. Sendo manuseadas, sinto-as corpos estranhos. Ideias apenas usadas com um propósito, mas ideias sem convicção, sem serem capazes de me convencer. Posso não admitir a contrafação das ideias assim tomadas de empréstimo (para grande transtorno interior). O que faço com estas ideias tomadas de empréstimo? Uso-as à espera de que, generosas, atribuam uma pista para sondar as interrogações? É que as interrogações continuam formuladas, em espera. Não posso ceder à instigação da urgência. As interrogações estão em espera e assim podem continuar enquanto não houver um tabuleiro à medida para as retalhar. Se a missão é descobrir hipóteses de resposta (afaste-se a possibilidade de encontrar respostas definitivas), não é congruente forçá-las. É preciso saber o lastro que as decanta no exigível apuramento do palco onde as interrogações são servidas a exame. E se as ideias tomadas de empréstimo não forem acertadas, qual é o risco que corro? É o mesmo que toda a gente corre quando decai para maus julgamentos. Só é preciso admitir que o julgamento foi errado, por deficiente pano de fundo. E admitir as dores consequentes ao errado julgamento. Procurando, ou não (depois se decide), corrigir o erro.

Sem comentários: