Llama Virgem, “Portugrall”, in https://www.youtube.com/watch?v=V3PColi1-nc
Não é preciso o avental. A pele deita-se sobre as coisas que o mundo encomenda à fertilidade. A pele precisa de saber como é a pele dessas coisas. A pele precisa de saber como é pele nessas coisas. E elas não enjeitam os poros macios que sobre elas se deitam. Da fusão resulta o quimérico observatório de onde se compõem as estrofes altivas, não simuladas, genuínas. Essas estrofes evaporam os fumos temíveis que podiam ser a fraqueza de tudo, não fossem os poderes lisérgicos das estrofes. Elas contêm o predicamento da pele heurística. Sobem à boca de cena com a mesma voracidade de um vulcão, mas sem a sua força catastrófica. Em vez dos homéricos e inúteis gravames do porvir, sobem a palco os intérpretes desinteressados, despojados de roupas e sem pudor da nudez, as suas peles como o sol genesíaco sem espera. As coisas do mundo ganham um banho de pele. Já não são inertes e frias entidades sem nome. Ganham a vida da pele que sobre si se deita. De repente, às coisas assim ungidas vem um reflexo de vida própria, por osmose – por bem-vinda contaminação da longanimidade da pele em si deitada. À pele assim benfeitora fica o gesto de humildade. Não reclama créditos. Não reclama um púlpito que é a negação do ato cometido. As gentes ficam a saber, sem precisarem de tutela escolar, que não somos fadados para o egoísmo. Sabem que se formos desinvestidos do narcisismo que é o tenebroso ardil dos espelhos, temos a safra maior que é o autorreconhecimento. A pele continua a ser a mesma. Ainda que tenha dado de si uma importante parte às coisas que há no mundo merecedoras do seu proselitismo. E as coisas, embebidas nas cores garridas da pele nelas embebida, são reinventadas por dentro da sua bondade.
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