Weezer, “Paranoid Android”, in https://www.youtube.com/watch?v=4nTo8rjo-lM
Fora do radar. Como se o corpo fosse um fantasma aos outros olhares. O sucedâneo de um fantasma. Invisível.
É deste calibre um anseio. Diferente da arrogância dos ensimesmados, dos que se julgam matéria centrípeta do mundo, narcísicos. Talvez: uma misantropia virada do avesso. À consideração da peugada da alma, quando ela for dada a um paradeiro. No lado contrário dos narcísicos, ajuizando que o inferno é ele próprio. Dos seus fantasmas que lucubram na medula que é um labirinto sem fuga.
Invisível, sem terçar a irresponsabilidade. Sem querer fugir ao escrutínio, que começa (e acaba) nos interstícios da alma que se enredam numa matéria complexa que não oferece respostas. Ousadia. Porque a invisibilidade pode ser treslida pelas convenções. Mas pouco importa. A condição da invisibilidade não se entrega ao juízo dos outros. Restringe-se aos cânones interiores.
A invisibilidade pode ser um logro. Pode parecer que se atravessamos as ruas da cidade sem sermos notados pelas pessoas que, maquinalmente, nos ignoram. Convém não abusar da invisibilidade. Um só ato excessivo, uma chamada de atenção que perturbe a abúlica condição dos passeantes, e depressa se revela como a abúlica condição é apenas um fingimento. É um paradoxo: na voragem da cidade, ninguém repara em nós e estamos sempre sob uma disfarçada vigilância dos olhares que fingem não estar atentos. Não há margem para descuidos. A invisibilidade pode ser um desejo. Um impossível desejo.
A vigilância que se tornou em predicado contemporâneo impede a consumação da invisibilidade. Pode parecer que as ruas são atravessadas e as pessoas se cruzam sem reparar em nós. Mas há sempre a vertigem de uns olhares forasteiros prontos para desmentir o anonimato. Uma escala austera impõe-se sobre a aparência da invisibilidade.
Afinal, ninguém é um rosto tão anónimo como intuía o desejo de ser invisível. Como as celebridades, denunciadas pelos olhares voyeurs que esbarram na sua pública condição, ninguém escapa à verificação meticulosa dos olhares outros. Se assim for preciso. Estar invisível parece a condição inata da imensa massa de anónimos. Até deixar de o ser. Quando a pessoa transborda do seu anonimato.
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