6.2.20

Quinteto de quatro (joker) (short stories #195)


Fontaines D. C., “Too Real”, in https://www.youtube.com/watch?v=CIbaqtcU0uI
          Cordialmente, os confrades apertavam as mãos quando se encontravam. Era um aperto firme. Sinalizava a solidez da amizade. Podiam contar uns com os outros. Não era preciso consultar um compêndio para saber as boas práticas da amizade. A firmeza dos cumprimentos era apenas um símbolo que cristalizava o laço que os entrelaçava. Não interessava saber como o laço medrou. Mesmo que o conhecimento que travaram tenha sido fortuito, ou que houvesse um substrato que dependia da oportunidade que tiveram para se conhecerem. Depois fruíram os interesses comuns, a afinidade, a convergência de preferências em domínios que transbordavam aquele que fora o inicial cimento do laço. O quinteto não deixou de nutrir os rituais que foram enraizando com a passagem do tempo. Muitas pessoas e diversas circunstâncias passaram. A amizade não tergiversou. Houve alturas em que divergiram. Faz parte do todo que é um processo. É exigível que cada confrade, colocado perante as divergências, consiga respeitar as posições diferentes da sua. Não eram irmãos siameses, disso tinham a noção. Podiam celebrar o resto, que era o mais importante. As fundações não se fragilizavam com os pareceres diferentes a propósito de episódicos assuntos. O quinteto sabia que o mais importante não estava em causa. Até que o quinteto ficou composto por quatro. A irritação passara a subir a palco com frequência mais do que episódica. A maledicência passara a ser o método preferido para instalar as divisões no seio da confraria. O quinto elemento era o joker, o autoexcluído membro do quinteto. O quinteto não vacilou, apesar de composto por quatro membros. Mantiveram-se como quinteto, porque foi como quinteto que começaram. Eram contra os estalinismos professados. Quinteto, porque a exclusão do quinto membro foi voluntária. A qualquer momento, o quinto elemento podia regressar. Fazia sentido que se continuasse a chamar quinteto.

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