19.1.21

O bolça desvalores

Beck, “Everybody’s Gotta Learn Sometime”, in https://www.youtube.com/watch?v=PaI1sLqFOuE&pbjreload=101

        (Qualquer coincidência com uma personagem que enfeita gigantescos outdoors e contamina o espeço público não será acidental)

Há um terreiro empestado de pagãos, no que os pagãos representam de chicória num lugar onde se procuram as melhores linhagens de café. Esse terreiro é um pântano que prospera até quando se atravessam épocas sucessivas de estiagem. No pântano, ladeado de jacarés esfaimados que não hesitam em lançar a dentadura às presas ingénuas, reina o bolça desvalores.

O bolça desvalores é um apóstolo da maledicência. Não sossega enquanto não espalhar o caos e atirar impropérios de variado calibre aos que se lhe opõem. Passeando uma pose triunfante, a do badernista que se autoconsidera muitíssimo na ordem dos humoristas e que se autocertifica numa elevada posição na hierarquia dos inteligentes. 

Todavia, sobressai a lucidez que da sua putativa inteligência diz ser uma mera contrafação. O bolça desvalores ensanguenta, e com sangue fétido, o terreiro imundo. São de sangue pútrido as palavras vis com que ultraja adversários. O terreiro já era imundo antes de ele subir a palco e contracenar no contrabando de valores. Não ora; arrota chistes dignos de um primata, vomita dizeres que julga apoucarem os adversários quando, no fim de contas, são o espelho fidedigno do autor. 

Atrás de si, granjeia um séquito. Ele, o patriarca dos desvalores, e o séquito, sublinhadores oficiais da aleivosia que sobre a confraria se abate. A cada exibição soez do bolça valores, a cada incursão ofensiva sobre um adversário, a horda aplaude-o com excitação onanista. Se os atingidos cometem a imprudência de responder à letra, erguem-se uma maré de fundo e uma cortina de fumo, deitando o bolça desvalores num presépio que serve de cama para as grandes vítimas deste mundo inexplicável. O opróbrio pertence sempre aos outros, que o olvido sobre a primeira pedra atirada pelo bolça desvalores pesa sobre o demais. 

A emergência do bolça desvalores atesta um mal-estar que estava hibernado. Atrás do bolça desvalores pululam os seus pajens que, dantes, fingiam moderação enquanto nidificavam noutros poisos. A zoaria em volta do bolça desvalores contamina o lugar com um odor duplamente putrefacto: o do lugar em que frui o bolça desvalores e seus seguidores e o do lugar onde se normalizam outros apóstatas, de linhagem oposta, que também não cultivam os valores ofendidos pelo bolça desvalores.

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