Deixa a decadência ser o seu próprio ácido sulfúrico. Não deixes que os sobressaltos se transformem em atos trágicos sem pano de fundo. Na dúvida, recorre ao teu PJ (personal Jesus). O PJ é gratuito! Ele não desaprova o teu gesto de oportunismo. Pois há para cada um de nós um PJ que sabe ser sua função amparar as angústias e as crises existenciais e servir de cais para as confissões que exorcizam descaminhos pretéritos. O PJ sabe que não lhe cabe estar ao teu lado nas horas boas, que nessas tu não te lembras de o convidar.
Magnânimo, o teu PJ está sempre de atalaia. Por mais que julgues que está distraído, o PJ segue-te com cuidado. Não te insurjas contra o PJ se um contratempo desarranja um dia, ou se és vítima de uma iniquidade, ou se os planos metodicamente cerzidos se estilhaçam sem razão aparente. Da mesma forma que não convidas o PJ para comungar as tuas proezas e os momentos em que te sentes gratificado, não queiras que ele te tenha como marioneta e tu sejas apenas um boneco inanimado, comandado pelo PJ através de um controlo remoto, na irrelevância da tua vontade.
Poderás dizer que as pessoas dizem constantemente “se deus quiser”, o que deixa à mostra, nas entrelinhas, que tudo o que acontece e desacontece é produto de intervenção divina. Mas aqui falamos do teu PJ, o embaixador de deus naquele plano intermédio entre o céu e a terra onde o PJ (todos os PJ) tem residência – ali algures na estratosfera, para não correrem o risco de, distraídos com as urgentes incumbências, chocarem com aviões em altitude de cruzeiro. Não queiras imputar responsabilidades ao teu PJ quando invocas o seu superior hierárquico. É que, além do mais, dizer “se deus quiser” não passa de uma expressão idiomática.
Por acaso sabes quando é o aniversário do teu PJ? Alguma vez lhe ofereceste a prenda preceituada na ocasião? Nunca pensaste na ingratidão em que medras quando rogas a intervenção do PJ nos momentos maus que te deixam melancólico ou desarmado ou com vontade de capitular? Alguma vez convidaste o PJ para a tua festa de aniversário, para o casamento, para uma celebração de um feito qualquer?
Estas injustiças teriam o condão de fragilizar os PJ, não fossem os PJ encorpados, psicologicamente coriáceos e à prova de insensibilidade dos seus protegidos. Eles nem precisam de sindicato que defenda as suas causas.
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