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Houve uma vez, em leituras
aleatórias, que esbarrou na lei de Gresham: “a má moeda expulsa a boa moeda”.
Em moeda não sendo – pois sobrevivia em monástica provisão – não coube em si de
perplexidade em notando a analogia com o seu testemunho interiorizado. Em não
sendo moeda, sabia-se má semente. Os demais atiravam-lhe o opróbrio da viuvez
das almas, pois era voz corrente que onde assentava demão tudo se decapava
mercê da sua corrosiva retórica. Seria ele a má semente que expulsava a boa
semente?
Era alma vertida em sua própria
solidão. Atirado para um canto onde se arrumavam os proscritos, os desfigurados
da normalidade. Dizia-se das más sementes que contaminavam as boas. Os bons
cortavam o mal pela raiz, não fossem as daninhas sementes ungir as terras quase
todas e poucas das boas sementes sobrassem para amostra. Os faróis da
beatitude, com frontispícios em narrativas acomodadas e em filmes venturosos,
não podiam admitir tamanha heresia. O lugar onde viviam tinha de ser exemplar.
Só paradigmáticas ações, daquelas que se ensinam nas escolas quando os mestres
atalham pela diligente moral.
Às más sementes ficavam reservadas as
penumbras que as boas sementes não ousavam espreitar, não viessem de lá
infetadas com sedimentos amaldiçoados da insistente perfídia. Como má semente,
jamais se intimidou. Nunca quis que alguém fosse promotor da sua extração às
trevas. Nunca quis a luminescência, temendo, ele próprio, que a natureza de má
semente fosse corrompida pelos ágeis anjinhos que, de asinhas bem compostas, untavam
a atmosfera com as pétalas perfumadas da indulgência.
Aprendeu a escapulir-se na noite mais
escura, por entre ruelas acanhadas, a coberto das vivalmas que pudessem
aparecer. Aprendeu que essas ruelas peçonhentas só eram visitadas, pela
madrugada avançada, por outras más sementes. Conviviam todas em silêncio. Não
socializavam, pois a intuição ensinara-lhes que à sua socialização podiam
sobejar intenções conspirativas assim entendidas pelas boas sementes
assombradas pela perene suspeição. E, todavia, não eram as más sementes que
aspergiam a traição, que perfecionavam os instintos maldosos (a coberto do
eufemismo do “instinto de sobrevivência”).
Mal por mal, já sobejavam os limites
de si que eram maiores do que as medidas onde cabia.
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