In http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/img_poesias/58855_gr.jpg
...“é rei”, certifica o povo, de quem
se diz ser sábio. A monarquia fez as pazes com a democracia.
(Eu sei que há monarquias que
sobrevivem à democracia; mas uma monarquia, com o beneplácito divino da
sucessão dinástica, é um travão à democracia quando ela quadra com a vontade
popular maioritária.)
Às explicações: com a vulgarização do
espaço público virtual, qualquer um se torna comentador (ou, na maior parte dos
casos, comentarista). E como a cada um é dada uma presciência que o coloca num
patamar elevado de onde vigia os comuns dos mortais que contraíram matrimónio
com a indigência intelectual, acha-se dono de um singular olho que, contudo, aprecia
mais do que o lupanar onde vegetam os cegos.
Impressionam-me os comentaristas
cheios de certezas categóricas. Aqueles que vêm, mesmo debaixo do seu nariz, o
que a muito poucos é dado a entender. São tutores da moral, tentando impedir
que ela se despedace como sinal dos tempos de decadência. Eles bem alumiam a
centelha por onde devemos fazer o caminho. Mas os cegos estão adormecidos na
sua cegueira. Não se importunam com as coisas graves da governação, nem quando
são torturados como sucede com estes tempos decadentes. Em chegando eleições, a
grande maioria dos néscios continua a desvalorizar as palavras avisadas dos
sábios, teimando em renovar os votos nos que deviam ser acusados de governação
danosa. Podem estar desgostosos com o matrimónio que contraíram com os
indigentes. Na dúvida, preferem renovar os votos que perpetuam os indigentes. Os
lúcidos, do alto da sua visão acutilante, servida por uma sabedoria inacessível
ao comum dos mortais, denunciam os atropelos inadmissíveis e protestam contra a
incompetência genética. Ainda não entenderam que o povo soberano é da mesma linhagem.
Os possuidores de olho judicioso andam
a pregar no deserto? À falta de uma oligarquia de prescientes – que seria uma
oligarquia abundante, a crer no exército numeroso de gente sábia que discorre
comentário sobredotado –, sobra a resignação. Têm de admitir que não conseguem
ser notáveis educadores da cidadania. A indigência dos cegos não se dobra a não
ser com meia dúzia de gerações em sucessivo passar do tempo. Ou podem emigrar
para terras distantes, onde tudo seja perfeito. Hipótese que teria, na minha
modesta maneira de ver, a vantagem de nos livrarmos de sacerdotes que eructam
uma cansativa superioridade moral.
Os moralistas desatam suspeição:
tenho-os na má conta de patrulharem a moral dos outros porque não devem
suportar a sua própria imoralidade.
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