In http://abrigo7.com/blog/wp-content/uploads/2012/09/seja-perseverante.jpg
Enfraquecia-se-te o olhar porque
querias estrelas no firmamento e tudo o que encontravas eram cinzas de um
nevoeiro baço. Entristecias-te porque não alcançavam os olhos sedentos qualquer
nau na embocadura do cais. Emudecias-te diante da indigência alheia. Nos
interstícios do júbilo, havia um encantamento quebrado como se em ti povoasse o
pior de ti que um espelho pode refratar.
Não era, esse correr temporário, tempo
vão. Servia para resgatar o pensamento das intempéries por onde se tresmalhara.
Essa a sua maior serventia: arrimar ao aconchego no regaço das planícies
douradas, despojadas das consumições caladas. A rosa dos ventos removida
debaixo da poeira era o zimbório de onde ecoavam as estrofes dos poemas
maiores, dos poemas que mereciam lugar no panteão onde se aloja o património da
humanidade. A rosa dos ventos, lugar onde a calibragem interior se consumava, andara
perdida enquanto a tempestade foragida espalhava o caos. Nem quando tudo
parecia desnorte, ou quando a maré tomou conta das ruas limítrofes delas
fazendo mar, foi prostrado pela capitulação. Ali não havia lugar a capitulação
alguma. Por mais doído estivesse o peito de tanto vento enfurecido nele se
esbarrar, por mais consumido pelo mar encapelado que se entranhava na ossatura.
Às vezes interrogava se as ruínas momentâneas
não eram a ativação natural de uma compensação. As coisas desfazem-se num ápice
quando demoraram tanto tempo a serem erguidas. Não contam as derrocadas, as que
são imprevistas e as que resultam de uma autopoiética decantação. A Fénix
também voltou a viver quando estava entregue às cinzas que pareciam tumulares. Quando
o hoje é uma projeção de um porvir que parecia inatingível, já não interessam
as dores que o foram no tempo pretérito. As divindades da lucidez interior
deixaram a cosmética iludir as cicatrizes. E as luzes das candeias estão
viradas a sul, de onde sopra o vento atual, o vento reparador.
Na pirâmide empoeirada já só sobram
os proveitos do tempo versado. Sabiamente, enquanto porfiava pela não
capitulação, a chave da pirâmide foi devorada pelas ondas enraivecidas que
visitavam o convés da cidade.
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