In http://marreta.files.wordpress.com/2010/02/gargalhada.jpg?w=520
Agora é de vez – e não apenas em
sonhos, ou quando julgamos que a vontade é tão insubmissa que consegue dobrar o
braço à realidade: uma data é quando um homem quiser. Sobretudo se for mandante
e decretar, com a solenidade dos decretos, que uma data não é quando aparece no
calendário, mas quando apetece ao mandante.
Foi na Venezuela, agora comandada
pelo delfim do defunto ditador populista. Chama-se Maduro, confirmando-se que
não esté verde para a função. Há dias, embebido de uma epifania, Maduro
mandou rasgar os calendários, que ele tinha decidido que o natal se comemorava
no primeiro de novembro. Eu acho bem. Este relativismo do tempo merece
todos os encómios. Torcer o tempo aproveita a quem com ele mal se amanha –
dirão os madraços costumeiros. Mas não é que a voz popular (que tanto – dizem –
ordena na imensa democracia que existe na Venezuela) que manda sentenciar que
natal é quando um homem quiser? Maduro, o grande ensinador da democracia, porta-voz
do povo, corporizou a voz popular e arrepiou caminho através das trevas do
calendário. As gentes desesperavam pelo natal. Faça-se natal fora do tempo, ou
determine-se que o tempo do natal é quando aprouver ao grande líder em simples
testemunho da vontade popular.
As convenções são para os
conservadores que não se desprendem das baias do bafio. Às convenções pertencem
os calendários. Quem quer uma medida exata do tempo se não aqueles que não se
importam de viver aprisionados pela tirania das convenções vertidas em
calendários? Louvemos, pois, o grande líder da Venezuela, que reinventou o
tempo e fez o favor de nos desfazermos dos calendários que dantes eram a caução
do tempo apoderado pelas convenções maniqueístas. Ainda ninguém o disse, mas
depreende-se do decreto presidencial de Maduro: o calendário é uma punição do
capitalismo.
Da mesma igualha das efemérides
itinerantes, só uma
virgindade que se vende. Não uma, mas duas vezes. Quem disse que a
virgindade se perde de vez quando dela alguém de despoja, deve ser acusado de
inqualificável abjeção que ultraja o relativismo das coisas. A virgindade, tal
como as datas, só depende da vontade de quem as ostenta. A verticalidade
obriga-nos a esquadrinhar muito além dos contrafortes do que julgamos ser a
realidade. Porque a realidade está, algures, numa dimensão vertical.
Eu, por exemplo, decreto, em jura
solene, que estou na virescência dos meus vinte e quatro anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário