19.11.13

Infinito no olhar

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Não era por mal. Às vezes estacionava numa lua qualquer. Não por andar em demanda de uma dimensão cósmica. Era a dimensão cósmica que se apoderava da sua lucidez. Divagava. Com a calma de quem plana na brisa impercetível. Com a paz de espírito de quem se gaba de não haver sobressaltos que o apoquentassem.
Não era um ensimesmar. Não era distração. Era diferente. Era como se houvesse uma alteridade, várias alteridades. Como se uma verticalidade de sentidos múltiplos ocupasse o pensamento. E, contudo, não sabia dizer que espessura tinham essas verticalidades, que cores delas irradiavam, as danças que os seus querubins ensaiavam. Só sabia dizer que não era por mal. Só sabia que tinha vários mundos na maresia da imaginação. Ficava absorto, como se entrasse em hibernação.
Às vezes esbarrava em postes de eletricidade que se atravessavam no caminho, enquanto a rua era pasto para as dimensões múltiplas em que se encerrava. De outra vez saiu à rua para deitar o lixo e não deu conta que estava em trajes menores, nem quando três raparigas imberbes gracejaram. Nessas alturas, tinha uma venda nos sentidos. Era uma ilha onde todas as águas, em rodeando a ilha, não a chegavam a beijar. Umas vezes, julgava-se astronauta (que o imaginário infantil não descolara das imagens de televisão em que a alunagem passara). Outras vezes, era pescador no mar do norte, só para ostentar a bravura de quem ousava desafiar a meteorologia indisciplinada. Ou peregrino aspergindo bondade por aqueles que viesse a descobrir que ficavam à margem da bondade distribuída. Ou piloto de aviões, saltitando de aeroporto em aeroporto, num nomadismo infecundo. Mas depois aterrava dos sonhos que sonhava à medida que os olhos se consumiam no tempo gasto. Era quando a lucidez derrotava a ilusão de todas as verticalidades que só tinham sentido no lírico arrastar de ossos pelos interstícios do tempo.
Não era por mal. Não era por mal. Chamassem-lhe distração. Lá por dentro, julgava saber que era apenas um lunático em ilógica lógica.

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