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“Descobri
o elixir da juventude”, apregoava às quatro partidas do mundo, aos ouvidos
que o queriam ouvir e aos ouvidos indiferentes que, contudo, depois de o
ouvirem não resistiam ao acosso da curiosidade. Nem muitos lhe davam crédito.
Os que o conheciam – eram muitos – sabiam da prosápia, conheciam o palrador
nato, o contador de histórias que enfeitiçava a audiência ao ponto desta já não
saber onde estava a linha de fronteira entre a realidade e a fantasia.
Apesar de serem poucas as credenciais
de reputação, os ouvidos que esbarravam na frase quimérica desembainhavam os alfinetes
da atenção. “Como podia ter encontrado o
elixir da juventude?” – era a interrogação que vinha à flor da pele. Se
fosse possível adiar o envelhecimento, por que não tomar conhecimento da matéria
com mágicas propriedades? Mas antes de se deitarem com ele na audição da
convincente historieta, os que desembolsavam uma maquia de confiança fitavam-no
de cima a baixo, indagando se estava a caminho de estar mais novo. Não notavam
rugas, o olhar era cristalino e cintilante, os dentes brancos ostentavam outra
marca de rejuvenescimento, trazia consigo um aspeto físico impecável e fazia
ponto de honra em se apresentar apessoado. O puzzle fazia um todo coerente. O apetite pelo elixir da juventude
aumentava com o liminar exame externo às suas faculdades. Era quando começavam
as interrogações. Queriam saber, os que corrompiam a circular oficial que
atestava a sua fraca fama, como aportara ao elixir da juventude. Sem preâmbulos,
disparava o segredo:
- Viajei.
Viajei muito. Conheci muitos lugares e pessoas muito diferentes. Comunguei
culturas. Fui diferente da minha idiossincrasia. Aliás, perdi o rasto à minha
idiossincrasia. Não perdi nada, no fim de contas. Ganhei tudo. Amadureci antes
do tempo. Com esta madurez, e toda a bagagem cultural que é meu lastro, fiz-me
mais novo. Todas as paisagens, em toda a sua acentuada diferença, são a
revivescência de mim.
Os que entoavam preces à sedentária
forma de viver viraram costas. Os que não se importam com a velhice, mas compareceram
na fugaz confiança de que fosse milagroso o elixir da juventude ruidosamente
propagandeado, desmobilizaram. Era muito alto o preço pelo retrocesso do
interior relógio que compassa o tempo que vem no seu particular relógio. Mais
valia deixar o tempo correr o seu tempo natural. Não sobraram muitos
convencidos. Um punhado, não mais. Só que a esses havia míngua de recursos para
se emprestarem às viagens frequentes, às viagens demoradas. O envelhecimento
era irremediável. Ele, todavia, assomava contra a maré. Uns acordavam com a
idade quebrada nas rugas do rosto e nos cabelos grisalhos onde outrora não eram
pertença. Ele passava pelos dias, diletante, a desanimar os restantes,
anunciando “estou a ficar mais novo”.
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